Com Fed dovish, Bolsa fecha em alta de 2,22%, a 116.549,44 pontos

Em meio à recente pressão do mercado sobre os rendimentos dos Treasuries, a reiteração da perspectiva dovish (mais leve) para a política monetária dos Estados Unidos, feita nesta quarta-feira no comunicado e especialmente na entrevista coletiva do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, recolocou o Ibovespa aos 116 mil pontos, em nível não visto no intradia desde 25 de fevereiro. Ao final, no maior nível de encerramento desde 19 de fevereiro, o índice da B3 mostrava ganho de 2,22%, aos 116.549,44 pontos, com máxima da sessão a 116.736,36 pontos, vindo de abertura a 114.017,62 pontos.

Reforçado, o giro financeiro ficou em R$ 47,8 bilhões. Na semana, o índice avança agora 2,09%, estendendo o ganho do mês a 5,92% – no ano, limita a perda a 2,07%.

Acompanhando melhora observada nas bolsas de Nova York durante a fala de Powell, o Ibovespa ganhou dinamismo maior, após ter se firmado acima dos 115 mil ainda no começo da tarde, a partir de 13h08, reagindo bem ao fato de o governo de São Paulo não ter anunciado, ao contrário do que se antecipava, medidas mais rígidas de distanciamento social, como lockdown, apesar da pressão sobre o sistema hospitalar.

A cereja do bolo, contudo, foi Powell ao reiterar a visão do Fed de que a taxa de juros não subirá tão cedo nos Estados Unidos, o que contribui para aliviar um pouco a missão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira em que deve anunciar a primeira elevação da Selic desde 2015, provavelmente para 2,50% ao ano. "Aqui, 2% não é a taxa de equilíbrio e a expectativa é de que se inicie hoje a normalização, com aumento de 0,50 ponto porcentual, como todo mundo espera. Caso o Fed viesse mais hawkish (mais duro) hoje, isso atrapalharia o trabalho do Copom, na medida em que estamos com atividade fraca. Bastante dovish, o Fed ajudou muito", diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, chamando atenção para a visão do BC dos EUA sobre inflação, reiterada nesta quarta-feira, de que "choques de oferta são por definição temporários". "A reação do mercado ao Fed foi muito boa. Não seria incômodo chegar ao fim do ano com yield de 1,7% a 2% na T-note de 10 anos, em meio a uma recuperação sincronizada nas maiores economias e com prosseguimento do giro de carteira, das ações de tecnologia para as que respondem de perto à retomada da economia real", acrescenta Attuch.

"Apesar do aumento (na projeção) do PIB (nos EUA) para este ano, de 4,2% para 6,5%, assim como da inflação, para 2,2%, os membros do Fed avaliam que não existem motivos para alterar a perspectiva de juros, e não projetam elevação até 2023", aponta Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, acrescentando que o BC americano considera a inflação na faixa de 2% como "um nível saudável para a economia". Assim, a sinalização de que "não está preocupado com o avanço da inflação", mesmo com os juros ainda próximos a zero nos Estados Unidos, "acabou animando os investidores".

Passado o Fed, a atenção se volta para o Copom, em decisão na qual a percepção da autoridade monetária sobre a inflação também estará em primeiríssimo plano, embora de outra forma. "O primeiro semestre para a atividade doméstica está dado, foi para o saco. A questão passa a ser a inflação, e tolerância não seria bem-vinda. Um aumento de 0,75 ponto porcentual seria muito bem-vindo, o que puxaria inclusive o Ibovespa para cima, pelo sinal do BC", diz Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, observando que ajuste inferior a 0,50% seria "insatisfatório" para o mercado.

Na B3 desta quarta-feira pré-Copom, destaque para alta de 9,87% para Sul América, à frente de JHSF (+7,62%) e de Cosan (+7,37%). No lado oposto, Hapvida cedeu 2,39%, Intermédica, 1,43%, e Eneva, 0,95%. Setores de maior peso no Ibovespa tiveram desempenho positivo na sessão, como commodities (Petrobras PN +3,44% e ON +3,19%; Vale ON +1,44%) e bancos (Bradesco PN +4,17%).

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