Economia

Preço de ativos favorece chegada de recursos da China

Se a oferta de ativos brasileiros já seria suficiente para atrair recursos da China, os preços mais baratos devido à crise econômica doméstica acentuaram ainda mais o movimento. A entrada de um maior fluxo de recursos chineses é um passo relevante do processo de internacionalização do gigante asiático, política incentivada pelo próprio governo do país.

Na prática, o Brasil representa a última fronteira das empresas chinesas, conta o diretor da área de prática chinesa da KPMG, Daniel Lau. “O fluxo comercial entre China e outro país é o estágio que antecede o investimento. Com o Brasil, a troca comercial cresceu de forma significativa, o que fez com que as empresas chinesas olhassem para o País”, diz Lau. O espaço para o crescimento dos investimentos aqui, assim como na América Latina, é imenso, acredita o diretor da KPMG. “A América Latina é destino de 4% do fluxo de investimento chinês em outros países. Ainda estamos no começo”, exemplifica.

O sócio responsável pelo China Desk de TozziniFreire Advogados, área dedicada a negócios com o país asiático, Reinaldo Guang Ruey Ma, destaca que o mercado brasileiro já vinha atraindo o interesse do investidor estrangeiro, incluindo os chineses, mas as investigações da Lava Jato, bem como companhias endividadas colocando ativos na mesa para negociação, trouxeram preços bastante competitivos, aumentando ainda mais o interesse no Brasil. “Não vemos apenas interesse em infraestrutura, mas no setor imobiliário, proteína animal e, eventualmente, se tivermos alguma flexibilização em terras rurais, pode abrir mais uma frente”, afirma o advogado. Tramita um projeto de lei que autoriza a venda de terras para estrangeiros. Mesmo antes que isso aconteça, o especialista diz que no escritório já há hoje seis transações na rua, com chineses na ponta compradora.

Há um pouco mais de um ano, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, visitou o Brasil com a promessa de investimentos bilionários. Na ocasião foram anunciados 35 acordos e assinado um memorando que prevê a criação de um fundo bilateral para investimento em infraestrutura que pode chegar a US$ 50 bilhões, um crédito para a Petrobras de US$ 7 bilhões e outro para a Vale, de US$ 4 bilhões. Agora, neste ano, os aportes começaram a chegar.

De lá pra cá, as oportunidades no País cresceram exponencialmente. Mais de US$ 200 bilhões em ativos brasileiros foram colocados à venda, segundo cálculos não oficiais de bancos de investimento. Entre as opções, estão justamente ativos de empresas envolvidas na Operação Lava Jato e de companhias com elevado endividamento, que estão buscando trazer para baixo seus indicadores de alavancagem.

O setor de infraestrutura costuma atrair mais os holofotes. Ainda mais em um momento em que o Brasil ficou órfão de grandes empreiteiras, depois que os maiores nomes do setor foram envolvidos nas investigações da Lava Jato. Charles Tang, da Câmara Brasil-China, conta que está conversando com uma grande empreiteira chinesa sobre a possibilidade de adquirir uma companhia média do setor no Brasil, para ganhar musculatura e deslanchar nos investimentos em infraestrutura no País. Daniel Lau, da KPMG, lembra que as empreiteiras chinesas têm muito expertise em obras na China, o que soa apropriado para o atual momento no Brasil. “Há muitas chinesas olhando os espaços para ocupar no País”, destaca.

Momento certo

“Várias empresas chinesas tinham interesse no Brasil, mas procuravam o momento certo de entrada e agora receberam o sinal verde da matriz chinesa. Antes era identificado um preço alto nos ativos, o câmbio não favorecia e empresas brasileiras não estavam abertas a parcerias ou não estavam vendendo ativos”, detalha Lau, da KPMG. Somado ao contexto brasileiro, a China tem como política de investir parte de suas reservas cambiais em ativos em outros países, fato que deu um impulso nos aportes chineses globalmente. Conta ainda a favor da América Latina a criação do Fundo Chinês para Investimento na América Latina (Clai-Fund).

Apesar dessa atenção especial para o Brasil no momento, com negócios para serem anunciados ao longo dos próximos meses, os últimos anos também foram marcados pela maior chegada dos chineses ao Brasil, como no setor bancário e a instalação das primeiras montadoras chinesas no País, caso da Chery e da JAC Motors.

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