O Ministério Público Federal (MPF) investiga a expressiva valorização de 184%, em 2015, registrada pelo FIP Florestal. O fundo, que reúne os fundos de pensão Petros e Funcef, é um dos acionistas da Eldorado Celulose, do grupo J&F. O Florestal começou 2015 com um patrimônio de R$ 2,2 bilhões e terminou o ano valendo R$ 6,3 bilhões, em função de uma reavaliação do valor da companhia feita pela empresa de auditoria Deloitte. Com essa supervalorização, os fundos de pensão, que são cotistas do Florestal e haviam investido R$ 225 milhões cada na Eldorado por meio desse fundo, ganharam R$ 1 bilhão a mais em seus balanços de 2015.
O salto foi tão grande que os conselhos fiscais das fundações Petros e Funcef não queriam contabilizar integralmente o valor do investimento registrado pelo Florestal. O entendimento era de que a avaliação da Deloitte foi otimista demais, ao dar como certa a entrada em operação da segunda fábrica da Eldorado, que sequer saiu do papel. O ano foi promissor para o setor de celulose e papel, mas, segundo fontes próximas às fundações, justificaria uma alta de apenas 70%. A Deloitte não quis comentar.
Os fundos de pensão acabaram registrando o valor integral em seus balanços e não quiseram se manifestar. A Petros disse que não comenta investigação em curso. A J&F enviou nota em que afirma que o valor da participação das fundações, de R$ 3 bilhões, foi feito com base em laudos de duas “renomadas auditorias independentes” contratadas pelo FIP e pela J&F. “Esse valor é cerca de seis vezes maior do que o investido por eles em 2009”.
No ano passado, a Eldorado iniciou obras de terraplenagem para construir a segunda unidade em Mato Grosso do Sul. Mas, para que a fábrica seja de fato erguida, a companhia precisa angariar R$ 10,7 bilhões. Seu planejamento previa financiamentos do BNDES e do FI-FGTS e lançamento de ações. “O equacionamento financeiro desta fábrica está longe de ser obtido, ainda mais com as investigações em curso”, disse uma fonte ligada à Funcef. As investigações, no caso, têm como alvo o suposto pagamento de propina para a obtenção de um financiamento de R$ 960 milhões com recursos do FI-FGTS, usado para construir a primeira fábrica da Eldorado. A história foi revelada por um ex-vice-presidente da Caixa em delação premiada. Além disso, as novas investigações deflagradas com a Operação Greenfield deixaram o cenário mais nebuloso, especialmente com a decisão judicial que afastou os dois principais executivos da J&F, os irmãos Wesley e Joesley Batista, da administração do grupo.
Esquemas
Os procuradores, na Greenfield, apontam três esquemas de avaliação que envolveram as empresas de papel e celulose do grupo J&F, à época Florestal e Eldorado. O primeiro relato é de que, já na partida, as duas fundações, Petros e Funcef, ignoraram as companhias avaliadoras que elas mesmas haviam contratado e que tinham estimado o valor dos ativos em cerca de R$ 500 milhões. As fundações optaram pelo R$ 1,17 bilhão estimado pela empresa indicada pelo FIP, a Vitoria Asset, que pertencia ao falido banco BVA.
O segundo momento em que se percebeu problemas foi na fusão da Florestal com a Eldorado. A nova avaliação, feita pelo banco Brasil Plural, foi mais conservadora que a da Vitoria Asset. Dessa vez, as fundações aceitaram a avaliação mais conservadora e foram diluídas em suas participações. Hoje, o FIP tem 34% da Eldorado e os cotistas são Petros, Funcef e J&F. O grupo da família Batista, além de fazer parte do FIP, detém o restante das ações da empresa.
A supervalorização registrada no ano passado é justamente o terceiro esquema apontado pelos procuradores. Uma das possibilidades levantadas pelo processo de investigação é que a avaliação acabaria beneficiando o gestor do fundo, que recebe taxa de performance. A Brasil Plural, que é a gestora, explicou por nota que só receberá taxa de performance quando ocorrer amortização de cotas. “Até a presente data, o Brasil Plural não recebeu qualquer valor a título de performance.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.