A aviação doméstica segue em trajetória de queda no Brasil e anotou em janeiro o 18º mês consecutivo de retração na demanda. De acordo com dados divulgados nesta terça-feira, 21, pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a demanda por transporte aéreo doméstico de passageiros, medida em RPK (Passageiros-quilômetro pagos transportados, na sigla em inglês), recuou 1,38% na comparação com janeiro de 2016.
A entidade, que apresenta a estatística com base no desempenho de suas associadas Avianca, Azul, Gol e Latam, salienta que a retração observada neste início de ano acontece sobre uma baixa de 4,05% registrada em janeiro do ano passado em relação a janeiro de 2015.
A oferta de transporte doméstico, medida em ASK (Assentos-quilômetro oferecidos, na sigla em inglês), teve redução de 2,74% em janeiro, somando 17 meses de recuo.
Tendo em vista uma diminuição da oferta superior à queda da demanda em janeiro, o setor observou uma melhora de 1,17 ponto porcentual no fator de aproveitamento, também conhecido como taxa de ocupação, para 84,36%.
Dados preocupantes
No total, as companhias aéreas transportaram juntas 8,6 milhões de passageiros no mês passado, número 2,17% menor que o verificado no mesmo período do ano passado.
Conforme a entidade, em valores absolutos, a oferta e o volume de passageiros registrados em janeiro deste ano são os mais baixos para o mês desde 2013.
“São dados preocupantes. Como o mercado entrou em retração em agosto de 2015, desde então estamos apurando baixas sobre baixas. Em condições normais, de crescimento, ou ao menos de estabilidade econômica, isso não deveria acontecer, em especial nessa época”, disse o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, por meio de nota.
Ele lembra que dezembro e janeiro são meses de alta temporada de verão da aviação. “É quando a procura por voos do público de lazer, mais sazonal, se soma à demanda dos passageiros de negócios, que é mais constante. Há dois anos isso não tem sido mais verdade”, disse, sugerindo que as pessoas têm feito menos turismo e realizado menos negócios.
Em termos de participação de mercado, a Gol se manteve na liderança em janeiro, com 38,80%; seguida pela Latam, com 31,27%; Azul, com 18,10%; e Avianca, com 11,83%.
Transporte internacional
Já no serviço de transporte internacional de passageiros, o desempenho das companhias nacionais apresentou uma melhora. Juntas, Latam, Gol, Azul e Avianca registraram um aumento da demanda de 5,40% na comparação com janeiro de 2016. Já a oferta foi ampliada em 1,94%, o que levou a uma taxa de ocupação de 87,74%, alta de 2,88 pontos percentuais ante igual mês do ano passado. O volume de passageiros transportados por estas companhias no mês foi de 790 mil clientes, crescimento de 6,20%.
Apesar do desempenho positivo, a Abear salienta que os dados devem ser postos em perspectiva, tendo em vista que as companhias associadas respondem por apenas uma parcela da demanda brasileira por viagens internacionais. Os dados consolidados são fornecidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que ainda não divulgou os números de janeiro.
Conforme destacou a Abear, segundo as estatísticas da agência reguladora, em 2016 o mercado internacional total, incluindo companhias brasileiras e estrangeiras, registrou queda de 7,09% da oferta, recuo de 3,96% da demanda e diminuição de 3,50% do total de passageiros transportados (20,8 milhões de viagens).
“Algumas brasileiras e diversas companhias estrangeiras anunciaram cortes de frequências ou até interrupção de rotas internacionais no ano passado em resposta ao ambiente de crise e de diminuição da procura por voos. Nesse cenário as empresas brasileiras, especialmente a partir do quarto trimestre, conseguiram retomar alguma participação de mercado. Isso parece estar continuando em 2017 e explica os crescimentos de demanda apurados nos últimos meses”, disse o consultor técnico da Abear, Maurício Emboaba.
A entidade lembrou que a participação de mercado das companhias brasileiras passou de 25,20% do total da demanda internacional em 2015 para 26,16% em 2016. Considerados apenas os últimos três meses de 2016 ante o mesmo período do ano anterior, a proporção passa de 25,68% para 28,59% de share. “Em resumo, as empresas brasileiras estão ganhando terreno em um mercado que tem diminuído de tamanho”, conclui o consultor.
Dentre as empresas nacionais, a Latam lidera com 78,23% da demanda internacional que foi direcionada a essas companhias. Gol tem 11,22%, a Azul responde por 10,44% e a Avianca fica com os demais 0,11%.