Internacional

Visita de Bolsonaro reaproxima Brasil e Israel após anos de distanciamento

Oswaldo Aranha é o nome de uma ruela perto do Mercado de Sarona, em Tel-Aviv. O ex-chanceler de Getúlio Vargas é um dos protagonistas da improvável criação de um Estado judeu na Palestina britânica. Após a 2ª Guerra, como embaixador do Brasil na ONU, ele presidiu a Assembleia-Geral que aprovou o plano de partilha do território e abriu caminho para a criação de Israel, em 1948.

Até os anos 60, o Brasil conseguiu se manter equidistante no conflito árabe-israelense, chegando até a esboçar alguma simpatia por Israel em votações no Conselho de Segurança da ONU, como a recusa em apoiar a proposta soviética de condenar o governo israelense por agressão aos vizinhos árabes na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Os choques do petróleo, no entanto, marcaram a primeira guinada da relação brasileira com a região. A partir dos anos 70, para manter o fornecimento, o governo militar levantou a bandeira do pragmatismo e se alinhou com os árabes. Foi período mais anti-Israel da história das relações exteriores do Brasil, principalmente na presidência do general Ernesto Geisel.

No livro O Brasil do general Geisel, o cientista político Walter de Góes lembra um dos episódios mais marcantes da relação entre Brasil e Israel. Em novembro de 1975, a Assembleia-Geral votava a Resolução 3379, que considerava o sionismo uma forma de racismo. Depois de sinalizar o voto favorável em uma comissão preliminar, Geisel quis mudar de opinião, mas ficou tão irritado com as críticas que recebeu dos EUA que mandou o chanceler Azeredo da Silveira manter posição e condenar o sionismo.

Com o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria, a diplomacia brasileira voltou a buscar uma posição equidistante na região. Embora muitas vezes crítico ao governo israelense em votações sobre direitos humanos na ONU, o Brasil teve gestos de conciliação. Em 2007, Israel foi o primeiro país a assinar um tratado de livre-comércio com o Mercosul.

Relações oscilaram nos anos petistas

Em 2010, Luiz Inácio Lula da Silva se tornou o primeiro presidente brasileiro a realizar uma visita de Estado a Israel. Seu governo, no entanto, é criticado por muitos israelenses não pela aproximação com os palestinos, mas pelo apoio dado ao Irã. Dois meses depois da viagem a Israel, Lula articulou com a Turquia um acordo nuclear com os iranianos bastante criticado pelas potências ocidentais.

O que já era percebido como ruim ficou ainda pior no governo Dilma Rousseff. Em 2014, após o Brasil emitir um comunicado condenando Israel pelo “uso desproporcional da força” em bombardeios à Faixa de Gaza, Yigal Palmor, porta-voz da chancelaria israelense, respondeu com um golpe abaixo da linha da cintura.

“Esta é uma demonstração lamentável de como o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua a ser um anão diplomático”, disse Palmer — que não parou aí. “A resposta de Israel foi proporcional de acordo com a lei internacional. Isto não é futebol. No futebol, quando a partida termina empatada, você diz que é proporcional. Mas quando acaba em 7 a 1, é desproporcional”, afirmou o porta-voz, tirando sarro com o trauma na Copa de 2014.

É contra essa hostilidade que Jair Bolsonaro trabalha a partir de hoje, em sua visita a Israel. Dada sua afinidade com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, a tarefa parece mais fácil do que a missão de Tite à frente da seleção.

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