Internacional

Militares venezuelanos recuam e reabrem fronteira com o Brasil

Militares da Venezuela recuaram nesta sexta-feira, 10, do bloqueio unilateral que mantinham desde fevereiro na fronteira com o Brasil e autorizaram o trânsito normal de pessoas e veículos, confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo o prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato (PRB). Um oficial que atua na fronteira também confirmou à reportagem a reabertura pela Venezuela, que surpreendeu os militares brasileiros. Há cerca de quatro horas, o fluxo pela rodovia que liga os países foi normalizado, após 78 dias de fechamento.

“Os militares recuaram. Estavam com barreira fixa no posto de fronteira, de forma permanente, mas agora se afastaram e acredito que estão aquartelados”, disse Torquato. “(A fronteira) está aberta normalmente passando pelas duas aduanas.”

Questionado sobre a reabertura, o Itamaraty afirmou, em nota, que “não recebeu qualquer comunicação nesse sentido e, até o momento, não tem conhecimento dessa alegada reabertura da fronteira”.

O prefeito relatou que as negociações se iniciaram na véspera por causa de crianças brasileiras que estudam em escolas de Santa Elena do Uairén, cidade venezuelana mais próxima da fronteira. O vice-cônsul brasileiro na cidade, Ewerton Oliveira, e o prefeito de Pacaraima fizeram tratativas com generais da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) e conseguiram, primeiro, autorização para a passagem diária de cerca de 500 pessoas, entre pais e alunos. Parte deles é residente na Venezuela. Havia preocupação com desistência dos alunos e excesso de faltas, por causa das condições de trânsito pelas vias clandestinas que passaram a servir como único caminho desde o fechamento da fronteira – uma série de trilhas abertas na mata de savana da região, que, agora no inverno, ficam intransitáveis por causa das chuvas.

“A negociação foi aceita, nossa proposta e estávamos elaborando documento com lista de pais e alunos, quando eles entraram num consenso hoje e resolveram abrir definitivamente para outras pessoas”, disse o prefeito.

As autoridades locais em Pacaraima esperam agora um fluxo na fronteira maior que o normal nos próximos três dias, por causa da demanda represada, ao longo dos 78 dias. As vendas, em sua maior parte feitas em espécie, haviam caído cerca de 80% em padarias e no comércio que se concentra em apenas uma rua da cidade. Roraima é o principal fornecedor de comida e itens de consumo diário para a cidade de Santa Elena.

“O movimento está muito grande, mas eu acredito que vai normalizar. Uma população repentina está vindo, porque a Venezuela estava muito desabastecida. As pessoas que estavam com dificuldade vão tentar vir para tentar comprar comida”, avalia Torquato.

Para o prefeito, a reabertura é positiva porque o comércio vindo da Venezuela foi um dos motores do crescimento da cidade nos últimos anos: “É muito bom para geração de emprego de renda”.

Por outro lado, o maior problema será o potencial impacto com a vinda de mais refugiados que elevaram a demanda na rede municipal de ensino. O prefeito calcula que a quantidade de alunos matriculados passou de 2070 para 2772 alunos matriculados em sala de aula e outros 860 alunos matriculados, mas sem espaço físico para estudar. Ele tenta acordo para a montagem de uma estrutura por meio da Operação Acolhida.

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