Internacional

Crise desafiará novo líder na Guatemala

Quando Jimmy Morales venceu as eleições presidenciais de 2015, a Guatemala antecipava uma tendência. Diante do ceticismo global, os guatemaltecos escolhiam um outsider, um comediante que vestia o manto messiânico, prometia uma cruzada contra a corrupção para construir uma “nova Guatemala”. Não deu certo. Quatro anos depois, 8 milhões de eleitores voltam neste domingo, 16, às urnas para eleger seu sucessor em uma campanha marcada pela decepção. Entre os problemas mais graves, além da corrupção, estão a miséria e o crime organizado, responsáveis pela massa de imigrantes que foge da violência – 60% da população é pobre e quase 10% dos 17 milhões de guatemaltecos vivem nos EUA.

Três dos quatro últimos presidentes – Alfonso Portillo, Álvaro Colom e Otto Pérez – foram presos por corrupção. Neste cenário, Morales chegou como o salvador da pátria. Assim como Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil, ele teve apoio de uma base de evangélicos – que explica o fato de EUA e Guatemala serem os únicos a mudar sua embaixada em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém.

O discurso anticorrupção, porém, teve vida curta. Desde 2006, o país vive sob a égide da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), criada em conjunto com a ONU para ajudar a polícia e o Ministério Público a investigar e processar casos criminais.

Rapidamente, a Cicig se tornou a instituição mais popular do país e logo apontou irregularidades envolvendo Morales. Seu irmão, Sammy, e seu filho, José Manuel, foram presos por corrupção e lavagem de dinheiro. Em 2017, a Cicig descobriu que Jimmy recebeu US$ 1 milhão em financiamento ilegal de campanha. Sua aprovação, que foi de 80%, em 2016, caiu para 10%, em 2017.

Pesquisas indicam que mais da metade dos eleitores ainda não conta com candidato. Todos são caras velhas na política. A favorita é Sandra Torres, de centro-esquerda, com apenas 20% das intenções de voto. Ela foi casada com o ex-presidente Colom. Como a Constituição proíbe candidatura de marido ou mulher de ex-mandatários, os dois adotaram uma gambiarra jurídica: se divorciaram. O conservador Alejandro Giammattei, em segundo com 17%, foi candidato nas quatro últimas eleições. Outros nomes também são velhos conhecidos. O embaixador Edmond Mulet, em terceiro com 8,5% das intenções de voto, é ex-deputado, e o empresário Roberto Arzu, em quarto com 8%, é filho de um ex-presidente.

A decepção é tanta que um terço dos eleitores, segundo o instituto Gallup, acredita que o resultado de hoje será fraudado e 20% acha que a votação é ilegítima, porque vários nomes foram impedidos de concorrer. A principal ausência é Thelma Aldana, ex-procuradora-geral que construiu sua reputação colocando políticos na cadeia. Ameaçada, ela fugiu para os EUA. “A legitimidade e a confiança no processo eleitoral foram seriamente afetadas”, disse Phillip Chicola, diretor da Fundação Liberdade e Desenvolvimento. “É preocupante que tanta gente desconfie da democracia.” (Com agências internacionais).

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