Daniel (nome fictício), de 13 anos, estudava desde o 1.º ano do ensino fundamental na mesma escola e tinha muitos amigos. No ano passado, mudou o comportamento e passou a rejeitar o colégio. Chegou a faltar um mês inteiro e dizia para os pais que preferia morrer a ir para lá. A família procurou a escola quando descobriu que ele estava sofrendo bullying, mas não teve apoio. Insatisfeitos com a condução, os pais decidiram mudá-lo de colégio.
Há um ano, uma lei federal determinou que todas as escolas tenham ações contra esse tipo de violência. Mas pais e especialistas continuam relatando que muitas não adotam medidas efetivas de combate. A discussão do tema ganhou força na última semana com a repercussão da série da Netflix 13 Reasons Why, que trata de bullying e suicídio em uma escola americana.
A escola em que Daniel estudava disse não saber que ele sofria bullying. “Falei com a direção para entender, mas disseram que não tinha acontecido nada, que nunca viram nada. Era uma turma com 11 alunos, como não sabiam que meu filho estava sofrendo?”, pergunta a mãe, uma enfermeira de 39 anos que pediu para não ser identificada.
Para a psicóloga Luciana Zobel Lapa, pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ainda falta formação aos profissionais nas escolas. A violência costuma ser velada – longe do alcance dos professores. “Por isso, é preciso um olhar atento às pistas que os alunos dão.” Segundo Luciana, para prevenir é preciso compreender todos os envolvidos nas agressões. “O autor, que não tem sensibilidade moral e não se incomoda com a dor do outro, e o alvo, que possui imagem rebaixada de si mesmo e se vê como merecedor da agressão. E também os espectadores, que não se posicionam por medo de serem vítimas ou que carecem de sensibilidade moral.”
Ações. A orientadora educacional do ensino fundamental Ana Claudia Esteves Correa, do colégio Stance Dual, na Bela Vista, região central de São Paulo, conta que a escola criou grupos antibullying entre os próprios alunos do 6º ao 9º anos. “Eles são preparados para interferir nas situações de bullying. Isso tem dado muito certo, porque eles chegam mais perto do problema do que um adulto, já que o bullying é muito sutil”, afirma. A especialista diz ainda que há uma forte formação do professor nesse sentido. A escola determina que se avalie como os estudantes fazem os trabalhos em grupo.
No Equipe, em Higienópolis, atividades de lazer têm como objetivo unir os estudantes. “Temos procurado fazer um trabalho de convivência, de criar situações em que as crianças interajam entre si”, diz a diretora Luciana Fevorini.
Gabriel (nome fictício), de 15 anos, começou a sofrer bullying quando mudou de escola, no 8º ano do ensino fundamental. “Ele nunca havia tido problema, mas começou a ficar muito quieto em casa e a dizer que não queria ir para escola. Achei que era uma fase de adaptação, mas a situação piorou”, conta a mãe, advogada de 40 anos, que também pediu anonimato.
Como Gabriel não contava o que acontecia a mãe decidiu transferi-lo para outra unidade. “Os meninos das duas unidades se conheciam e criaram um grupo no WhatsApp para xingá-lo.
Tiravam sarro por ele ser muito tímido e não gostar de futebol”, diz a mãe, que em 2016 foi mais de dez vezes à escola. Segundo ela, a direção não tomou medidas para ajudá-lo e dizia que era “fase de adolescente”. “O coordenador o chamou para uma conversa e foi muito agressivo. Deu a entender que ele não tinha inteligência emocional para superar a situação.” A mãe, então, buscou ajuda médica. “Ele achava que merecia os xingamentos, que era tudo aquilo que diziam.” Neste ano, Gabriel foi para o Colégio Santa Maria. “Ainda faz terapia, mas está muito melhor.”
Responsabilidade. Segundo Ana Paula Lazzareschi, advogada especialista no tema, as escolas devem ter trabalho de socialização e podem sim ser responsabilizadas por bullying. “Não adianta fazer um trabalho genérico, dar uma cartilha pronta aos alunos.”