O Kremlin rejeitou nesta terça, 25, os resultados dos exames que indicaram que Alexei Navalni, conhecido opositor de Vladimir Putin, foi envenenado. As autoridades russas também disseram não haver motivo para investigar o caso, já que o diagnóstico alemão não é conclusivo. Ao mesmo tempo, o governo russo viu aumentar a pressão internacional por uma investigação independente.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o hospital Charité, de Berlim, que fez os exames e onde Navalni está internado, não apontou a substância que contaminou o opositor, que passou mal em um voo da Sibéria para Moscou. Para Peskov, os médicos alemães estão "se apressando" em usar a palavra envenenamento. "É preciso haver uma razão para uma investigação. No momento, tudo o que vocês e eu vemos é que o paciente está em coma", afirmou Peskov.
De acordo com o porta-voz, se um envenenamento for estabelecido de forma definitiva como a causa, uma investigação será iniciada. "Se a substância for identificada e se alguém determinar que foi um envenenamento, então, é claro, isso será uma razão para uma investigação."
Peskov disse também que qualquer insinuação de que Putin esteja envolvido no possível ataque a Navalni é "conversa fiada" que o Kremlin não levará a sério e não responderá. "A análise de nossos médicos e a dos médicos da Alemanha concordam por completo com os sintomas. Mas as conclusões são diferentes", disse.
A equipe médica em Omsk, onde Navalni ficou hospitalizado por dois dias, disse que não havia evidências de que ele foi envenenado – diagnóstico que a Rússia agora usa para justificar sua decisão de não investigar o caso.
No entanto, médicos alemães suspeitam que o opositor russo teria sido contaminado por novichok, substância neurotóxica desenvolvida pela União Soviética. Em altas quantidades, causa vômitos, dores de cabeça, alucinações e pode matar.
Aliados do opositor russo disseram que formalizaram um pedido para que uma investigação criminal fosse aberta pelo Comitê Investigativo da Rússia e autoridades na cidade siberiana de Omsk, no mesmo dia em que Navalni foi internado, na quinta-feira, mas o pedido foi ignorado. "A decisão de abrir um processo criminal é tomada em três dias, de acordo com a lei. O prazo terminou no domingo", disse Kira Yarmysh, porta-voz de Navalni, no Twitter.
A pressão por uma investigação aumentou ontem, com líderes mundiais pedindo à Rússia que apure o caso. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, defendeu uma investigação independente. "Os EUA estão preocupados com as descobertas preliminares de especialistas e médicos alemães de que o opositor Alexei Navalni foi envenenado", afirmou, Pompeo, que está em viagem no Oriente Médio. "Se as denúncias se confirmarem, os EUA apoiam uma ampla investigação e estão disponíveis para colaborar."
No Twitter, a ministra das Relações Exteriores da Suécia, Ann Linde, disse ontem que as "circunstâncias a respeito do envenenamento de Navalni precisam ser esclarecidas por uma investigação independente". Na segunda-feira, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, já havia pedido à Rússia que abrisse uma investigação e responsabilizasse os autores. Mais tarde, no mesmo dia, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), reiterou o apelo de Merkel. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>