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Eleição para um ano e meio de mandato

Na segunda-feira, dia 31 de julho, dezenas de militares e 15 servidores do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) especialistas em transmissão de dados iniciaram viagem de barco que só terminaria na quarta-feira. O grupo cruzou 983 quilômetros de rio, entre Manaus e os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Maraã e Itamarati, sem saber se a jornada seria perdida.

Na mesma segunda-feira, as Forças Armadas mobilizaram 4,4 mil militares, 87 embarcações e cinco helicópteros para garantir que a eleição suplementar para o governo do Amazonas, marcada para hoje, transcorra normalmente, especialmente nas 30 regiões mais remotas do Estado. As eleições foram marcadas após a cassação, em maio, do mandato do governador José Melo (PROS) e de seu vice, Henrique Oliveira (SD), por compra de votos.

Na quarta-feira, dia 2 de agosto, enquanto as atenções estavam voltadas para o plenário da Câmara, em Brasília, que votava a denúncia contra o presidente Michel Temer, os primeiros contingentes desembarcaram em Cachoeira. Naquele dia, o ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, ainda não havia decidido se manteria o pleito ou o suspenderia, atendendo a um recurso da defesa dos cassados. Melo e Oliveira entraram com recurso contra a sentença.

Como Lewandowski já havia suspendido a eleição uma vez em julho (a decisão foi derrubada pelo ministro Celso de Mello), pairava uma indefinição no ar. A decisão só saiu na quinta-feira, horas antes do debate final que reuniu oito dos nove candidatos. Três deles, que já foram do mesmo grupo político, aparecem mais bem posicionados nas pesquisas – os ex-governadores Amazonino Mendes (PDT) e Eduardo Braga (PMDB) e a ex-deputada Rebecca Garcia (PP).

Em sua decisão, Lewandowski ainda deixou uma incerteza jurídica: o vencedor só será diplomado após o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgar os recursos, o que não tem data para ocorrer.

As 82 famílias que vivem em Vila Catalão, uma comunidade de palafitas no município de Iranduba, na divisa com Manaus, usarão canoas e pequenas embarcações para chegar até o local de votação, uma escola flutuante de madeira.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, a dona de casa Adriana Borges da Silva, de 20 anos, disse que planeja ir com o marido e o filho, de três anos, até a urna, que fica a poucas remadas de sua palafita. Ela ainda não tem candidato. “Nessa campanha não apareceu ninguém por aqui. Nem parece eleição.”

Em outro extremo de Catalão, o pescador João Félix Pinto da Silva, de 31 anos, brincou com o pouco tempo de duração do mandato-tampão, que será de 15 meses. “Pelo menos, se der errado vai durar pouco.” Ele também “reparou” na ausência de políticos na comunidade e disse que os candidatos devem estar mais preocupados com a capital. Pudera: dos 2,3 milhões de eleitores aptos a votar hoje, 1,2 milhão são de Manaus.

Denúncias

A compra de votos, motivo da cassação de Melo, foi tema dominante na campanha convocada às pressas. Diversas denúncias chegaram ao Ministério Público Eleitoral (MPE) local: de carros-fortes que teriam sido usados para transportar malotes de dinheiro para eleitores no interior à distribuição de panelas, bonecas e ventiladores por um prefeito. Esses dois casos ainda não foram analisados, por isso os nomes dos envolvidos foram preservados.

Um barco, que teria sido alugado pela Secretaria de Educação de Parintins, foi flagrado com material de campanha de Amazonino. Segundo o MPE, foi encontrado um recibo que revelaria o vínculo. A assessoria do candidato não atendeu às ligações da reportagem.

O caso mais rumoroso foi uma ação cautelar do MPE contra Rebecca e o governador interino, David Almeida (PSD), por uso da máquina pública. A ação relata a demissão de 48 servidores da Superintendência Estadual de Habitação que teriam se recusado a fazer campanha para a candidata, aliada de Almeida.

À reportagem, Rebecca tratou a acusação como “mais uma falácia em período de campanha”. “Houve uma mudança de governo. É natural que haja mudança nos cargos de confiança”, afirmou. O governador também disse considerar “natural” as mudanças.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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