As vendas por delivery nos supermercados do Rio de Janeiro chegaram a atingir o pico de 400% com o isolamento social iniciado em meados de março por causa do coronavírus, informou o presidente da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), Fábio Queiróz, que ainda não tem, no entanto, os números médios desse crescimento no primeiro mês de quarentena.
Por outro lado, a movimentação nas lojas de supermercados no Estado caiu 35% de 17 de março a 6 de abril, disse Queiróz em videoconferência na manhã desta quarta-feira com jornalistas.
Para as vendas de Páscoa, a estimativa é de que as vendas sejam 15% menores em relação ao mesmo período do ano passado. "O efeito econômico da pandemia em abril deve ser o ápice (da queda de vendas). Deve vender menos que abril do que ano passado", disse.
Ele estimou que em abril já será observado um "trade down", quando o consumidor muda a marca que estava acostumado para uma marca inferior, e que também terá consumidor racionamento alimento. "A renda da população está comprometida nesse momento, isso tudo vai impactar os supermercados, não tenho duvida", completou.
Segundo ele, as vendas nas lojas tiveram picos de alta de 24% no início da quarentena, puxadas pela "correria" dos primeiros dias da pandemia, que exigiram um esforço adicional dos supermercados para manter o abastecimento. A expectativa para abril, porém, é de queda, afirmou Queiróz.
Ele disse não acreditar, no entanto, em desabastecimento "nos próximos dias", mas vê possíveis problemas se o isolamento social perdurar por um prazo maior.
O alerta para os desabastecimentos dos supermercados em nível global foi feito pela diretora da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em Nova Iorque, Carla Mucavi.
"Até o momento não acredito em desabastecimento. Até abril, de jeito nenhum, mas se durar um período muito longo, e se a infecção for nos patamares maiores do que os estimados, ou em níveis máximos, há possibilidade sim, infelizmente", declarou Queiróz.
Ele informou no entanto que monitora todas as etapas da cadeia de consumo e tem feito contato constante órgãos do governo, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e indústrias, "e sempre tem sido encontrada uma solução para evitar o desabastecimento".
A pandemia já retirou das lojas 20% dos trabalhadores do setor no Rio, segundo Queiróz, que não vê, no entanto, perspectivas de demissões desses profissionais quando acabar a crise, diante do crescimento do hábito do consumidor de comprar por meio de delivery e o aperfeiçoamento da automação que está ocorrendo nas lojas para atender os novos costumes. "Não vejo a automação roubando empregos, vejo mudança no perfil dos empregos", avaliou.
Segundo ele, foram afastados das lojas empregados do grupo de risco da pandemia e os que apresentam qualquer sintoma ligado ao coronavírus, pelo período de pelo menos 14 dias.
Ele explicou que, apesar do boom do delivery causado pela pandemia, o Brasil ainda está muito atrás comparado com outros países no mundo em relação a compras pela Internet, devido ao atraso na transformação digital o País.
Assim, a tendência é voltarem para as lojas, que terão que criar mais atrativos para o consumidor que vai surgir depois da crise. "Pode sim ser um grande momento de transformação nas lojas físicas, passar a gerar mais experiências para os consumidores, como mais lançamentos, mais promoções. Depois dessa pandemia, não tenho dúvida que a relação entre consumidor e supermercados será ainda mais íntima", previu.