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Metrô desativa bicicletários em cinco estações da capital paulista

O governo de São Paulo tem desativado, no último ano, bicicletários em estações do Metrô na capital paulista. Esta quinta-feira, 14, é o último dia de funcionamento do equipamento na Estação Santa Cecília, localizada no centro da cidade. No local, um aviso colado à grade informa: “Este bicicletário estará em funcionamento até 14/09 quinta). Será desativado a partir de 15/09 (sexta-feira)”.

Com a desativação do equipamento na Santa Cecília, chega a cinco o número de bicicletários fechados. Brás, Liberdade, Paraíso e Vila Madalena também já tiveram o espaço de estacionamento de bicicleta.

O Metrô afirma, em nota, que tem substituído bicicletários por paraciclos “em função da demanda de usuários do serviço”. Segundo a empresa, a estratégia “segue experiências internacionais observadas nos maiores metrôs do mundo”. Ciclistas ouvidos pela reportagem relataram, porém, que paraciclos são mais expostos e oferecem mais risco de furtos e roubos.

A maquiadora vegana Mayara Tutumi, de 22 anos, diz que o aviso na Estação Santa Cecília foi colocado na terça-feira, 12, e que nem os funcionários da estação sabiam explicar os motivos para o fechamento do espaço.

“Se explicassem, dessem alguma razão, seria melhor. E isso poderia ser feito com alguma antecedência, mas me parece que avisaram dois dias antes. Quem trabalha e depende de deixar bicicletas no equipamento vai fazer como?”, queixa-se Mayara.

Ela trabalha na região central e, às terças e quintas, desde abril, passou a adotar a bicicleta como meio de transporte. Mayara prende a bicicleta em um paraciclo às 7h40 e busca às 18h. Na terça-feira, porém, voltou para pegar o modal na hora do almoço e percebeu que haviam tentado quebrar o cadeado. A opção foi deixar no bicicletário do Metrô Santa Cecília, a mais de um quilômetro do trabalho.

“Estava cheio (quando cheguei), mas tinha uma vaga e tinha até segurança. Quando fui buscá-la, quase 19h, vi um cartaz dizendo que só vai funcionar até 14 de setembro. Ou seja, não teremos mais essa opção. O que fazemos agora?”, questiona.

Na Vila Madalena, na zona oeste, o bicicletário foi desativado no dia 28 de agosto. A reportagem esteve na segunda-feira na estação de metrô, e viu um cartaz da companhia que orientava a fazer uso dos paraciclos no acesso em frente à estação, na área externa.

Mayara conta que o namorado teve a bicicleta furtada em um paraciclo na calçada da Biblioteca Mário de Andrade, também na região central.

“Até então, eu e ele éramos mais desencanados em parar em paraciclos. Mas hoje temos preocupação de saber antes de casa se no lugar aonde iremos terá espaço para estacionar na área interna”, explica a maquiadora.

Na Estação Paraíso, na zona sul, uma funcionária informou que o bicicletário foi fechado há pelo menos seis meses. Um mapa oficial da rede metroviária fixado à parede da estação estava desatualizado, pois informava que as Estações Brás, Liberdade, Paraíso e Vila Madalena ainda tinham bicicletário.

Procurado, o Metrô informou que nove estações do Metrô disponibilizam o estacionamento para bicicletas – e não 13 como informava o mapa que está na Estação Paraíso.

Com a desativação do bicicletário da Estação Liberdade, na região central, a funcionária pública Jaqueline Frutuoso, de 34 anos, diz que parou de usar a bicicleta entre a casa, na Vila Mariana, na zona sul, e o trabalho, no centro da capital. Em 2015 e 2016, pelo menos duas vezes por semana, ela utilizava o modal como meio de transporte. Mas desde que o serviço parou de ser ofertado – segundo ela, no fim do ano passado – a bicicleta foi deixada de lado.

“Acabei abandonando o uso de bicicleta no meu dia a dia porque não tenho onde deixar. Até poderia tentar parar no bicicletário da Sé também, a algumas quadras da Liberdade e próximo ao meu trabalho, mas a procura é alta. Eu não podia ficar esperando vagar espaço para estacionar porque senão me atrasava para o trabalho”, explica a funcionária pública. “E também não dá para confiar em paraciclo. Só prendo bicicleta em paraciclo nas situações em que vou ficar vendo a bicicleta.” Para Jaqueline, o fechamento dos bicicletários é uma “tentativa de minar o uso da bicicleta na cidade”.

A insegurança do paraciclo é reconhecida pela cicloativista Adriana Marmo, da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade).

“Em paraciclo na rua ninguém para. Não vivemos na cidade mais segura do mundo, então o ciclista tem muito medo de deixar do lado de fora”, afirma Adriana. Segundo ela, ao indicar o paraciclo como opção ao bicicletário, o governo mostra que “não compreende o potencial que a conexão entre Metrô e bicicleta tem”. “Se não tem o bicicletário, a pessoa nunca vai usar. Primeiro tem que criar a estrutura, e isso vai atrair o ciclista a utilizar”, argumenta.

Para a associação, a desativação de bicicletários desrespeita a lei que criou, em 2005, o sistema cicloviário de São Paulo. A lei nº 14.266 orienta que o sistema deverá “articular o transporte por bicicleta com o Sistema Integrado de Transporte de Passageiros, viabilizando os deslocamentos com segurança, eficiência e conforto para o ciclista”. A Ciclocidade diz que pediu neste ano duas reuniões com o Metrô e não obteve resposta.

O Metrô informou, em nota, que “incentiva o transporte por meio de bicicleta como complemento ao de massa” e que disponibiliza cerca 600 vagas para que o usuário possa estacioná-las no sistema administrado pela companhia.

Sobre o fechamento de bicicletários, o Metrô afirmou que está substituindo os estacionamentos por paraciclos para “adequar a utilização dos equipamentos em função da demanda de usuários do serviço, otimizando os custos de manutenção dos espaços”. Segundo a companhia, eles custaram cerca de R$ 1,4 milhão em 2016.

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