A partir dessa eleição, passado ficou para trás e eu na planície, diz Maia

Emocionado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez seu último discurso no cargo e disse que comandar a Casa foi a maior honra de sua vida. Depois dos atritos com o candidato apoiado por Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), favorito na disputa, Maia adotou um tom conciliatório, disse que as brigas ficaram para trás e afirmou ter certeza de que qualquer dos candidatos que vencer a eleição vai trabalhar "para que tenhamos orgulho e respeito de sermos deputados".

"Apenas um de vocês terá a enorme honra de presidir a nossa Câmara dos Deputados – me preparei pra não chorar – honra que tive pelos últimos quatro anos e sete meses, em que tive a oportunidade de conhecer melhor o meu País através de cada um de vocês, através de diálogos, de visitas que fiz com alguns de vocês, de conversas na residência da Câmara", disse, muito aplaudido pelos presentes.

"A partir desta eleição, o passado ficou pra trás, e nós precisaremos, unidos, e eu na planície, no plenário, com muito orgulho, com cada um de vocês, construir o futuro do Brasil, não pelos próximos dois anos, mas para os próximos 20 anos", acrescentou. Depois do bate-boca com Lira na reunião de líderes, Maia, que apoia Baleia Rossi (MDB-SP), pregou o restabelecimento da paz na Câmara e pediu desculpas a Lira. "As brigas passaram. Vamos eleger o novo presidente. Tivemos um momento de mais atrito, no meu caso, com a candidatura do deputado Arthur Lira. A ele e a aqueles que o apoiam, se algum momento se sentiram ofendidos pelo que falei, não foi a minha intenção", disse. "Eu admiro cada um dos deputados e das deputadas, tenho orgulho de ser presidente desta Casa, e mais do que isso, tenho orgulho de ser deputado federal", afirmou.

Maia citou seu pai, o ex-prefeito e ex-deputado federal Cesar Maia, e políticos como Mário Covas, Ulysses Guimarães, José Serra e Delfim Netto, ressaltando que todos tinham "orgulho do parlamento brasileiro". No discurso, Maia disse que a pandemia do coronavírus foi o momento mais desafiador de sua gestão à frente da Câmara. Lembrou que os servidores da Casa conseguiram construir, em uma semana, um sistema para a realização de votações remotas, e disse que a Câmara liderou projetos que garantiram condições para o enfrentamento da covid-19.

"A PEC da guerra foi uma construção dessa Casa", disse, em relação à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que criou condições para o pagamento do auxílio emergencial e contou com apoio da grande maioria da Casa, "do PSL ao PSOL".

Defensor da reforma administrativa, engavetada pelo governo Jair Bolsonaro, Maia citou os privilégios dos servidores públicos, algo que, na avaliação dele, acentua as desigualdades sociais do País. "Eu digo aos de esquerda e aos de direita: o governo federal e os seus três poderes são injustos, porque concentram renda na elite dos servidores públicos, e tenho certeza que todos que estão aqui, do PSL, que são ligados a Bolsonaro, que batem em mim de forma democrática, porque é assim o processo democrático no País, da esquerda, todos nós sabemos, que não é esse Estado que nós chegamos aqui pra defender", disse. "Tenho certeza de que nós sabemos que, diferente da Europa, o nosso Estado é concentrador de renda, não é distribuidor de renda."

Ainda sobre a pandemia, Maia disse que a vacina é um dos desafios do País, mas frisou que a distribuição de renda é fundamental para um País mais justo. "Esses são os nossos desafios, é a vacina, o enfrentamento da segunda onda da pandemia, mas mais do que isso, é gerar as condições para que os brasileiros sejam mais iguais, para que a escola pública seja tão boa quanto a escola privada, que a vida numa UTI pública tenha a mesma chance de salvar uma vida que a UTI de um hospital privado."

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