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Sede do COI, Suíça vê maioria local reprovar Jogos de Inverno de 2026 no país

Os suíços vão às urnas no dia 10 de junho para decidir se autorizam a cidade de Sion a concorrer para ser sede dos Jogos Olímpicos de Inverno, de 2026, e usar dinheiro público para tal fim. Mas, nos últimos dias, pesquisas de opinião revelam que a ideia de destinar US$ 100 milhões (cerca de R$ 370 milhões) para a campanha do evento é rejeitada por mais de 50% dos eleitores.

Entre o Comitê Olímpico Internacional (COI), com sede em Lausanne, e Sion, a distância não passa de 120 quilômetros. Mas a percepção sobre os Jogos é profundamente diferente. O próprio governo federal suíço apoia a ideia de um evento olímpico no sudoeste do país. Mas 58% dos moradores da região do Valais, onde se situa Sion, afirmam que votarão contra a ideia do evento.

Um apoio ainda menor vem das mulheres. Apenas 32% delas são favoráveis a que o cantão destine US$ 60 milhões (aproximadamente R$ 222 milhões) para infraestrutura e outros US$ 40 milhões (algo em torno de R$ 148 milhões) para segurança.

Se o “não” vencer, esse não será o primeiro golpe ao COI. No ano passado, a cidade de Innsbruck rejeitou, nas urnas, uma proposta para concorrer para receber os Jogos Olímpicos de Inverno de 2026. O golpe foi interpretado como um sinal claro de que os escândalos envolvendo o Rio de Janeiro, o impacto dos gastos russos em Sochi (palco dos Jogos de 2014, na Rússia) e a falta de transparência no processo de seleção das cidades estão afastando cidades de países democráticos de qualquer aventura olímpica.

O governo austríaco era favorável a levar o evento pela terceira vez na história à cidade alpina. Mas sob a condição de que mais de 200 cidades votassem a favor na região. O problema é que 53% dos eleitores disseram que o custo era elevado e que não tinham interesse em ver dinheiro público destinado a esse objetivo.

A perda de Innsbruck representou um sinal de alerta muito além de um mero “não” de uma cidade ao evento. O local é considerado como uma das capitais mundiais do esporte de neve, com ampla infraestrutura e know-how para eventos. Sua recusa mandou um recado claro ao COI, de que a crise é profunda. “É como se Wimbledon renunciasse ao tênis”, escreveu o comentarista David Owen ao falar do mais tradicional torneio de Grand Slam da modalidade, realizado em Londres.

Para muitos dos organizadores locais, o voto foi um reflexo da própria imagem do movimento olímpico. “A imagem olímpica se deteriorou”, disse o presidente da Federação Austríaca de Esqui, Peter Schröcksnadel. “A isso tudo, temos de somar o fato de que as pessoas já não confiam na política.”

Os Jogos de 2026 terão suas sedes escolhidas em pouco menos de dois anos. Mas penam para encontrar candidatos que possam promover uma verdadeira corrida pelo evento. Também na Suíça, Berna e Davos se recusaram a abrir os cofres públicos para bancar a festa.

O evento de 2026 não é o único a sofrer com a falta de candidatos. Nos últimos anos foi formada uma longa fila de governos e votos populares que tem rejeitado o evento. Para os Jogos de Inverno de 2022, por exemplo, referendos em Cracóvia, Munique e na milionária St. Moritz, na Suíça, disseram “não” a se tornarem candidatas.

Em Estocolmo e Oslo, os governos optaram por abortar o processo diante da oposição que se formou no local. Lviv, na Ucrânia, indicou que abandonaria a corrida diante dos custos e da situação bélica no país.

Ao final do processo, o COI tinha apenas duas opções: dar o jogos para Almaty ou Pequim, duas cidades em países onde falta democracia e, no caso chinês, falta neve.

Para os Jogos de 2020, a entidade apenas contou com três concorrentes: Madri, Istambul e Tóquio, que acabou ficando com o evento. Para 2016, eram nove os candidatos a concorrer ainda em 2009.

Para 2024, apenas Los Angeles e Paris estavam na briga, depois da desistência de Roma, que se recusou a pagar pelas garantias e fazer os investimentos exigidos. Budapeste também desistiu, diante dos elevados custos. Hamburgo, Boston, Toronto, Durban e várias outras que ensaiaram uma candidatura também desistiram pelo caminho.

O COI, sabendo da dificuldade em encontrar pretendentes, anunciou que decidiu simplificou o sistema de candidaturas. Num primeiro momento, o processo praticamente seria gratuito e seria o próprio COI quem ajudaria as cidades a montar seus planos para concorrer.

Não haverá nem pedidos de garantias e as cidades entrarão em um “diálogo” de um ano com o COI para avaliar como poderiam apresentar seus projetos. A entidade ainda anunciou que promete uma ajuda recorde de quase US$ 1 bilhão (cerca de R$ 3,7 bi, na cotação atual) para a cidade que se apresentar e vencer a corrida olímpica.

Em agosto, o presidente do COI, Thomas Bach, ainda reconheceu que a entidade estava ignorando as populações locais nas decisões. “Há cinco anos, olhávamos se governos apoiavam o evento, se a oposição apoiava e entidades esportivas e empresários apoiavam”, disse. “Falaríamos que temos um amplo apoio público. Mas o mundo, em muitos aspectos, mudou”, admitiu.

“Agora é o povo. Se todos esses grupos se aliam, a população suspeita de que existe algo errado e que estariam colocando dinheiro em seus bolsos. É uma mudança de atitude. Podemos nos queixar dela. Mas não podemos ignorar”, reconheceu.

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