Economia

Queiroz Galvão perde 2/3 das receitas e corta à metade total de funcionários

Desde que foi envolvida na Operação Lava Jato, no fim de 2014, a construtora Queiroz Galvão perdeu quase dois terços de seu faturamento e reduziu o quadro de funcionários para menos da metade. Ainda assim, a empreiteira era vista como uma das menos afetadas pelo escândalo pelos avanços que havia conquistado nos últimos meses.

Primeiro teve os bens desbloqueados pelo Supremo Tribunal Federal (STF); depois conseguiu a liberação de financiamento de US$ 145 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para um projeto no exterior; e deu início as obras de novo projeto, de R$ 200 milhões. Mas há três semanas o cenário mudou radicalmente e uma série de notícias ruins começou a abalar as expectativas de recuperação da empresa.

Numa ação que alcançou outras quatro companhias, o Tribunal de Contas da União (TCU) declarou a empresa inidônea por suposta fraude na licitação da usina nuclear Angra 3. Com a medida, a construtora ficou proibida de participar de novas licitações do governo federal, o que pode levar a empreiteira à derrocada. Na quarta-feira, outra medida atingiu em cheio a empresa. O TCU bloqueou os bens de oito empreiteiras investigadas na Lava Jato, sendo a Queiroz Galvão uma delas.

Em nota, antes dessa última decisão do tribunal, a empresa afirmou que vai recorrer da declaração de inidoneidade. “A Construtora Queiroz Galvão acredita que a decisão será revertida após apreciação, pelas autoridades, de seus fundamentos de defesa. A empresa usará os recursos cabíveis para esclarecer os fatos e preservar suas atividades no mercado.” Especialistas avaliam, porém, que será uma tarefa difícil se livrar do selo de inidoneidade, que acaba afetando também os negócios com o setor privado.

“As empresas não querem ter relação com uma construtora que tem essa imagem e esse selo”, afirmou o executivo de uma concorrente, que prefere não se identificar. Terceira maior empreiteira do País, a Queiroz Galvão viu suas receitas caírem de R$ 5 bilhões para R$ 2 bilhões, desde que executivos da empresa foram presos na Lava Jato.

Estrutura

A nova realidade fez a empreiteira rever toda a estrutura, afirmou um ex-funcionário da companhia. Quatro escritórios regionais foram fechados e a unidade de São Paulo, que antes ocupava dois andares no bairro do Itaim Bibi, agora foi reduzida a apenas um pavimento. As medidas de contenção de despesas abrangeram de cortes de motoristas para o alto escalão a renegociações de contratos com fornecedores. Um deles, que prefere não se identificar, disse que o objetivo é reduzir os valores.

Quando o escândalo de corrupção estourou no Brasil e envolveu todas as grandes construtoras, a Queiroz Galvão estava num processo de mudança na gestão. Até 2013, Ildefonso Colares Filho, atualmente em prisão domiciliar, era o presidente da construtora, onde trabalhou por mais de 40 anos, ditou seu estilo e fez a empreiteira crescer a um preço que agora começa a ser cobrado.

Com sua saída – segundo fontes de mercado, por questões de saúde -, a empresa passou a ser comandada pelo mineiro de Montes Claros, Petrônio Braz Júnior, que também já teve de prestar depoimento na Polícia Federal. Sob sua liderança e sob o efeito da Lava Jato, ele cortou mais de 13 mil funcionários (de 25 mil para 12 mil trabalhadores) e diminuiu os níveis hierárquicos. Hoje, por exemplo, a empresa não tem vice-presidência, afirma um ex-funcionário.

Rebaixada por agências de classificação de risco, com uma dívida de R$ 1,6 bilhão (sendo R$ 929 milhões no curto prazo) e sem caixa, a empresa tem apostado no amplo programa de compliance, com canal de denúncia terceirizado, e na nova diretoria criada para buscar negócios privados. Esse grupo tem sido responsável, por exemplo, pela negociação com os franceses da Vinci, que venceram a concessão do aeroporto de Salvador. Apesar das apostas do mercado de que a empresa não sobreviveria à inidoneidade, a carteira de obras da empreiteira vai até 2021 – quando terminaria o castigo dado pelo TCU. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?