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Após perder recurso na CAS, Semenya participa da etapa de Doha da Diamond League

Protagonista de uma grande polêmica nos últimos dias, a sul-africana Caster Semenya, bicampeã olímpica dos 800 metros, pode disputar nesta sexta-feira na etapa de Doha, no Catar, que abre a temporada de 2019 da Diamond League, a sua última prova na distância que a consagrou no mundo do atletismo. Na última quarta, a Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês) negou o recurso da atleta e anunciou a decisão que ela, por produzir naturalmente uma grande quantidade de hormônios masculinos (testosterona), não poderá mais correr internacionalmente.

Como o veto só é válido a partir da próxima quarta-feira, Semenya poderá correr nesta sexta-feira sob as regras antigas da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo, na sigla em inglês). Depois, a sul-africana deverá tomar medicamentos para reduzir os seus níveis de testosterona se quiser competir entre as mulheres e defender o seu título no Mundial que ocorrerá entre 28 de setembro e 6 de outubro, também em Doha.

Semenya declarou nesta quinta-feira que vê perseguição na decisão dada pelo tribunal. A atleta postou nas suas redes sociais uma mensagem enigmática, que pode até ser interpretada como uma possível aposentadoria. “Saber quando se afastar é sabedoria. Ser capaz de ter coragem. Ficar de cabeça erguida é dignidade”, disse a atleta no Twitter.

O presidente da IAAF, o inglês Sebastian Coe, comentou a sentença que proíbe Semenya de correr. “O atletismo tem duas classificações muito claras: idade e sexo. Somos ferozmente protetores destes dois pulares e estou muito grato pela Corte ter sustentado esse princípio”, disse o dirigente em entrevista coletiva realizada em Doha nesta quinta-feira.

ENTENDA O CASO – A corredora sul-africana está envolta em uma polêmica relacionada a um caso que atinge as mulheres consideradas hiperandrógenas. O hiperandrogenismo é um distúrbio endócrino comum das mulheres em idade reprodutiva caracterizada pelo excesso de andrógenos como testosterona e afeta entre 5% e 10% das pessoas do sexo feminino.

E a polêmica em torno de Semenya já dura uma década, pois no Mundial de 2009, com apenas 18 anos, ela ganhou a prova dos 800m da competição um dia depois da revelação de que teve de fazer testes de gênero ordenados pela IAAF, em parte por causa de sua musculatura.

Na época, alguns meios de comunicação australianos foram criticados por publicarem matérias em que especulavam sobre a anatomia da então adolescente e a sul-africana precisou ser submetida a novos exames médicos depois daquele Mundial. E depois de ficar quase um ano fora das pistas de atletismo, ela foi liberada pela IAAF para participar de competições femininas.

Em fevereiro passado, após o final de uma semana de audiência, a CAS inicialmente anunciou que tornaria pública a sua decisão sobre a apelação da atleta “antes de 26 de março”. Porém, o tribunal com sede em Lausanne, na Suíça, depois revelou que precisou adiar o veredicto sobre o caso “até o final de abril”, ao receber novos documentos anexados ao processo, mas então não fixou nenhuma data para que isso ocorresse. O que só aconteceu na última segunda-feira, quando confirmou que daria a sua resposta ao recurso da atleta nesta quarta.

E este veredicto foi anunciado após Semenya ter acusado o presidente da IAAF, Sebastian Coe, de abrir “velhas feridas” em entrevista a um jornal australiano, na qual o dirigente britânico apontou que ela e outras atletas com alta produção de testosterona endógena representem uma ameaça à “santidade da competição justa”.

Em um comunicado divulgado no dia 27 de março, os advogados de Semenya disseram que os comentários de Coe e a nota “distorcida” do jornal Daily Telegraph referiu-se à meio-fundista sul-africana como “cheia de músculos” e “invencível” levaram a sua cliente a lembrar o quanto foi analisada e julgada durante o seu primeiro Mundial, em 2009.

Para a IAAF, as atletas com altos níveis de testosterona têm uma vantagem injusta sobre as suas concorrentes em provas a partir dos 400 metros e até uma milha. Além dos dois ouros olímpicos, Semenya faturou o título da provas dos 800m nas edições de Berlim-2009, Daegu-2011 e Londres-2017 do Mundial de Atletismo.

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