Bolsa fecha em leve baixa de 0,23%, aos 85.468,91 pontos, com bancos

O Ibovespa quase encadeou o segundo dia positivo nesta terça, 26, embora em alta bem mais moderada do que a de segunda-feira, 25, enquanto Wall Street retornou do feriado pelo Memorial Day com avanço consistente, em meio à reabertura gradual das economias, superado, ao que tudo indica, o pior momento da primeira onda do novo coronavírus no exterior. O progresso anunciado pelo laboratório Novavax em testes clínicos para uma vacina contra a Covid-19 contribuiu para a demanda por ativos de risco fora do Brasil, como ações e petróleo. Por aqui, o fator político reaparece no radar, após a Polícia Federal realizar nesta manhã operação de busca e apreensão na residência oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), em meio a investigações sobre desvios de recursos da Saúde.

Entre os sinais de retomada no exterior e incertezas sobre a economia, a saúde e a política domésticas, o Ibovespa fechou a sessão de hoje em baixa de 0,23%, aos 85.468,91 pontos, após ter atingido ontem o maior nível de encerramento desde 10 de março, então a 92.214,47 pontos. Na máxima de hoje, o índice de referência da B3 foi a 87.332,53 pontos, maior nível intradia desde 11 de março, quando saiu de 92.202,15 pontos na abertura daquela sessão. Na mínima, à tarde, o Ibovespa tocou hoje os 85.395,71 pontos, tendo oscilado com mais frequência para terreno negativo após Witzel ter elevado o tom contra a família Bolsonaro.

Com a recuperação observada em maio, analistas gráficos apontam o nível de 90 mil pontos como alvo para o índice. Até o dia 5 de março, o Ibovespa mantinha-se acima dos 100 mil pontos, tendo fechado aos 102.233,24 pontos naquela ocasião, na sequência da correção iniciada na quarta-feira de cinzas, quando a progressão do coronavírus pelo mundo passou a assustar os mercados. O giro financeiro de hoje, elevado, totalizou R$ 29,5 bilhões e, agora, o índice acumula ganho de 4,01% na semana, e de 6,16% no mês, ainda cedendo 26,09% no ano.

Entre os setores da B3, destaque nesta terça-feira para bancos, que puxaram ajuste negativo após terem sido protagonistas no dia anterior com o ânimo em torno da fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a necessidade de privatizar o Banco do Brasil, cuja ação ON subiu mais de 10% ontem. Hoje, as ações do segmento registraram perdas entre 2,25% (BB ON) e 4,52% (Bradesco ON), em meio a rumores de que o governo poderia se antecipar a movimento no Senado para tabelar juros do cheque especial, com uma trava nas taxas de juros do cartão de crédito.

"Houve uma recuperação, mas ainda não há uma definição de tendência, daqui pra frente. Isso acaba reforçando o papel dos day traders, com visão de curto prazo, que acabam prevalecendo sobre a formação dos preços, operando a volatilidade. Foi o que aconteceu hoje com os bancos, um setor ainda atrasado no ano e que entrega lucros com regularidade: acabou passando por uma realização, após a alta do dia anterior", aponta Ari Santos, operador de renda variável da Commcor, observando que em média as ações de bancos acumulam perdas em torno de 40% em 2020, enquanto o Ibovespa cede 26% no período.

"Pelo peso que tem no índice, um avanço mais consistente das ações de bancos ajudaria a empurrar o Ibovespa para a linha de 90 mil pontos", diz Santos. "Realizar lucros rapidamente e colocar dinheiro no bolso tem sido um padrão, na medida em que ainda há muita dúvida sobre o cenário. A economia vai voltar bem aos poucos, assim como a confiança do consumidor, depois do desemprego elevado pela pandemia", acrescenta.

Em contraponto à queda dos bancos, destaque positivo para as ações de varejo e consumo, que contribuíram para mitigar a correção do Ibovespa. Na ponta do índice, B2W fechou em alta de 9,18%, seguida por Hypera (+7,02%) e Magazine Luiza (+6,75%). "As maiores altas do dia foram das ações de varejo online, após o mercado gostar do forte crescimento de vendas via e-commerce apresentado pela Magazine Luíza em seu resultado trimestral", diz Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti.

No foco político desta terça-feira após operação da PF, o governador do Rio disse que, pelas provas disponíveis, o "senador Flávio já deveria estar preso" e que é vítima de uma perseguição movida pelo presidente Jair Bolsonaro que alcançará também outros governadores. Mais tarde, Flávio Bolsonaro reagiu a Witzel, ex-aliado e atual desafeto da família do presidente. "Isso não é nada perto do tsunami que pode chegar contra você", disse o senador (Republicanos-RJ), em transmissão pela internet.

Sinais preliminares de distensão política haviam aparecido na semana passada, com a reunião entre o presidente e governadores na qual houve acordo sobre a situação fiscal e a necessidade de manter os salários do funcionalismo sob controle até o fim de 2021. Depois, na sexta-feira, a divulgação do vídeo da reunião do dia 22 de abril acalmou o mercado, ao não trazer elementos que, na visão dos investidores, reforçassem a denúncia do ex-ministro Sergio Moro contra o presidente Bolsonaro, de ingerência na PF.

A eventualidade de novas ações contra governadores conflagraria o quadro político, no momento em que as atitudes do presidente permanecem sob escrutínio da Justiça. Em aguardado pronunciamento à tarde, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de quem Bolsonaro tem se reaproximado, fez um apelo ao entendimento. "Faço desse momento um convite à pacificação dos espíritos; temos de trabalhar pelo Brasil", disse Maia.

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