A taxa de câmbio no Brasil não deve voltar aos patamares anteriores à atual volatilidade, mas ainda não está claro qual é o seu novo ponto de equilíbrio, disse Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial para o Brasil e outros oito países. “Isso dependerá da estabilização das expectativas em relação ao patamar de juros nos Estados Unidos e à cotação do dólar diante de outras moedas.”
Segundo ele, o que está ocorrendo nos últimos dias é um ajuste global de portfólio de investidores, depois de um longo período de oferta ampla e barata de recursos. Se em 2013 houve o susto com os primeiros sinais de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) acabaria com a expansão monetária do pós-crise, agora há a consequência da elevação real dos juros na maior economia do mundo, ressaltou.
Canuto observou que o cenário “benigno” para a atual turbulência é que ela se limite ao ajuste de portfólio, com investidores retirando recursos de mercados emergentes. Esse movimento é estimulado não apenas pela elevação dos juros americanos, mas também pela alta do dólar. Quanto mais ele se valorizar, menor é a atratividade de investimentos em outras moedas, ainda que os juros oferecidos sejam maiores.
O cenário “maligno” é aquele no qual o ajuste de portfólio “contamine” outros setores da economia e crie um círculo vicioso de saída de capital e desvalorização que estimule mais fuga de recursos. O que pode ajudar a balança a pender para esse cenário são eventuais surpresas negativas em relação à inflação nos EUA, avaliou Canuto.
O economista defendeu a decisão do Banco Central brasileiro de manter a taxa de juros na reunião do Comitê de Política Monetária encerrada na quarta-feira. “O BC é responsável pelo controle da inflação. A desvalorização recente do real não é pequena e pode ter consequências sobre os preços.”