Depois da pressão de patrocinadores e torcedores, o Santos optou por encerrar o contrato com o atacante Robinho. O clube divulgou na noite desta sexta-feira uma nota informando que suspendeu a validade do contrato com o jogador.
"O Santos Futebol Clube e o atleta Robinho informam que, em comum acordo, resolveram suspender a validade do contrato firmado no último dia 10 de outubro para que o jogador possa se concentrar exclusivamente na sua defesa no processo que corre na Itália", anunciou a direção do clube.
Pelas redes sociais, Robinho também fez o anúncio. "Com muita tristeza no coração, venho falar para vocês que tomei a decisão junto do presidente de suspender meu contrato neste momento conturbado da minha vida. Meu objetivo sempre foi ajudar o Santos Futebol Clube. Se de alguma forma estou atrapalhando, é melhor que eu saia e foque nas minhas coisas pessoais. Para os torcedores do Peixão e aqueles que gostam de mim, vou provar minha inocência", disse o jogador.
Robinho chegou ao Santos como grande contratação para a temporada. Era a aposta de marketing para um clube que está sem patrocínio master desde o final de 2018 e poderia repetir boas atuações e trazer os holofotes, como conseguiu em suas outras passagens. Mas a condenação por estupro em 1ª instância na Itália – a decisão do Tribunal de Milão ainda não é definitiva e é alvo de contestação da defesa do jogador – ganhou enorme repercussão nos últimos dias e a pressão dos patrocinadores aumentou bastante.
Muitas empresas que estampam suas marcas na camisa do Santos já avisaram que, se o contrato com o atacante não fosse rescindido, o patrocínio seria retirado. A primeira a tomar a iniciativa foi a Orthopride, que já rompeu o contrato de patrocínio que tinha com o clube até fevereiro de 2021. A empresa de ortodontia estética estampava sua marca dentro do número das camisas e não quis ter seu nome atrelado a um jogador condenado por estupro.
Nesta sexta, uma reportagem do site GE.com revelou detalhes da sentença condenatória que deixaram o jogador em situação mais delicada. Transcrições de interceptações telefônicas realizadas com autorização judicial mostraram que Robinho revelou ter participado do ato que levou uma jovem de origem albanesa a acusar o jogador e amigos de estupro coletivo, em Milão, na Itália. Em 2017, a Justiça italiana se baseou principalmente nessas gravações para condenar o atacante em primeira instância a nove anos de prisão.
De acordo com a investigação, Robinho e outros cinco amigos, incluindo Ricardo Falco, que também foi condenado, levaram a mulher ao camarim de uma boate chamada Sio Café, em Milão, e lá abusaram sexualmente dela. O caso aconteceu em 22 de janeiro de 2013, quando o atleta defendia o Milan. Os outros suspeitos deixaram a Itália ao longo da investigação, e por isso a participação deles no ato é alvo de outro processo.
Com a repercussão negativa e pressão de pessoas nas redes sociais, os patrocinadores começaram a avisar o Santos que poderiam abandonar o clube. "A Tekbond repudia toda e qualquer situação de violência e promove o respeito à diversidade e a inclusão em suas operações. A empresa não teve conhecimento prévio sobre a contratação ou intenção do clube em contratar jogadores. Manifestamos nossa preocupação sobre o fato ao Santos assim que soubemos e, neste momento, a continuidade do nosso patrocínio está condicionada ao cancelamento da contratação do jogador pelo clube", disse a empresa.
Kicaldo, Casa de Apostas e Philco, entre outras, também divulgaram um posicionamento na mesma linha e notificaram o Santos sobre a possível saída caso fosse mantida a intenção de contar com Robinho no elenco. "Neste momento exigimos a rescisão imediata com o atleta. Caso contrário, a Philco irá revogar o contrato, pois a situação não compactua com os valores da marca", avisou. Já a fornecedora de material esportivo Umbro solicitou "para a próxima semana uma reunião extraordinária com a diretoria do Santos Futebol Clube, onde apresentará todos os fatores de risco referentes ao caso do atleta Robinho. Deste encontro sairá a definição de posicionamento da marca", disse, em nota.
Desde o início a diretoria do Santos e o técnico Cuca se colocaram ao lado do atleta, mas a pressão forte também de parte dos torcedores pelo rompimento do contrato fez diferença. Segundo Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing, não é comum esse tipo de atitude no Brasil dos patrocinadores no futebol, mas é uma situação que vem mudando nos últimos anos. "Quando a influenciadora Gabriela Pugliesi deu uma festa durante a pandemia de covid-19, as marcas foram cobradas pelos consumidores, e ela perdeu patrocinadores", comentou.
"As empresas estão cada vez mais preocupadas com as suas imagens e trabalham o tempo todo para aprimorar o compliance, então acredito que essa situação vai ocorrer cada vez mais. Os consumidores gostam de empresas que não são omissas e tenho visto muitos clientes preocupados com a imagem de suas empresas", disse o especialista em marketing.
A contratação de Robinho estava na pauta da reunião virtual de quarta-feira do Conselho Deliberativo do Santos. Os membros têm poder de fiscalização das ações da diretoria e poderiam vetar a contratação, que agora deve fazer burbulhar mais o ambiente político na Vila Belmiro. O clube vive um momento de turbulência política, com o afastamento do presidente José Carlos Peres. Quem está na presidência é Orlando Rollo, mas em dezembro haverá nova eleição.