Ao tomar posse ontem como secretária especial de Cultura, a atriz Regina Duarte afirmou diante do presidente Jair Bolsonaro que não esqueceria da promessa de que ela teria "carta-branca" para atuar. "Então, o convite que me trouxe até aqui falava em porteira fechada, carta-branca. Não vou esquecer não, hein?", disse. Ele respondeu ter poder de veto sobre indicações.
Quarta ocupante da secretaria da Cultura em 14 meses de governo, a atriz não fez o discurso sem motivo. Na terça-feira, o jornalista Sérgio Camargo, escolhido para chefiar a Fundação Palmares, afirmou ao<b> Estadão/Broadcast</b> que Regina pediu sua demissão, mas foi impedida por Bolsonaro e pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Na prática, ela tem enfrentado resistência para trocar nomes ligados ao titular do Turismo, aos evangélicos e até ao ideólogo Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo.
Bolsonaro disse na posse que, embora todos os integrantes de sua equipe tenham liberdade para compor a equipe, ele também pode rejeitar algumas indicações. "Regina, todos os meus ministros também receberam seu ministério de porteira fechada. Por isso, têm liberdade de escolher seu time. Obviamente, em alguns momentos, eu exerço o poder de veto de alguns nomes. Isso não é perseguir ninguém. É colocar os ministérios, as secretarias na direção que foi tomada pelo chefe do Executivo", comentou ele.
A atriz assumiu o cargo sob críticas de apoiadores do governo Bolsonaro nas redes sociais, em uma cerimônia que contou com poucos representantes da classe artística, no Palácio do Planalto. Ela pregou a "pacificação" e o "diálogo permanente" com o setor cultural e prestou continência a Bolsonaro, ex-capitão do Exército.
Diante de uma plateia formada por políticos, empresários, mas poucos atores, Bolsonaro afirmou que Regina "merece mais" do que a secretaria e vai passar por uma espécie de "momento probatório", em uma sinalização de que poderia recriar o Ministério da Cultura. O presidente disse, ainda, que não é um "brucutu" e afirmou ter intenção de valorizar a Lei Rouanet, segundo ele "mal utilizada".
"Você não está vendo um brucutu na sua frente. Está vendo um amigo. E a grande ponte para chegar até ele está ao seu lado", disse Bolsonaro a Regina, que estava sentada ao lado da primeira-dama, Michelle. "Eu confesso que é um momento muito difícil, porque o que muitos têm na cabeça é que sou uma pessoa que está longe de amar a cultura", emendou ele.
A atriz sofreu críticas de apoiadores do governo nas redes sociais por possíveis alterações na Secretaria da Cultura. A hashtag #ForaRegina alcançou o primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter na manhã de ontem. Os críticos da atriz a acusaram de ser um "cavalo de Troia" por, entre outras coisas, tirar da secretaria nomes ligados a Olavo de Carvalho. "Isso é a opinião deles, que não influencia em nada. Vou seguir em frente", afirmou.
As primeiras demissões feitas por orientação de Regina foram divulgadas no Diário Oficial de ontem. Entre os 12 profissionais de diversos órgãos ligados à Secretaria Especial da Cultura exonerados, está Dante Mantovani, até então presidente da Funarte e aluno de Olavo de Carvalho – e que disse que o rock induz às drogas e ao satanismo. Regina tem obtido apoio dos militares para conseguir fazer mudanças na secretaria. Ela desceu a rampa que dá acesso ao segundo andar do Palácio, onde fica o salão nobre, de braços dados com o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão.
Após a cerimônia, a atriz almoçou com amigos, como Rosamaria Murtinho e Mylla Christie, o filho André e alguns fãs em um restaurante de comida natural. O locutor de rodeios Cuiabano Lima exaltou o "nível de sensibilidade e a coragem" de Regina. "Não é Big Brother, mas ela já teve de enfrentar muitos paredões para aceitar esse cargo." (Colaborou Eduardo Rodrigues)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>