O Instituto Butantan deve lançar em Araraquara nos próximos dias o aplicativo Global Health Monitor, que faz, a partir do celular, rastreio por monitoramento geográfico de quem entrou em contato com um paciente que testou positivo para a covid-19. Para a ferramenta ter utilidade no controle da doença, a população precisa baixar o app e se cadastrar. "Tudo depende do input (alimentação de dados) pelos moradores", afirma Cláudia Ananina, gestora de tecnologia da informação do Butantan.
O uso do recurso, conhecido como "contact tracing", é indicado pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC), do departamento de Saúde dos Estados Unidos, para impedir a disseminação da covid. Representantes do Instituto Butantan se reuniram nessa quinta-feira, 18, com o prefeito de Araraquara Edinho Silva (PT) e integrantes do comitê de contingenciamento da covid da cidade para discutir essa e outras ações no município.
Nesta sexta-feira, Araraquara entra no quinto dia de lockdown, com 100% dos leitos de UTI e enfermaria ocupados. Com mais quatro mortes confirmadas nesta quinta, a cidade passa a ter 162 mortes pelo novo coronavírus desde o início da pandemia, em fevereiro do ano passado, sendo 46 confirmados em fevereiro deste ano.
O diretor do Butatan, Dimas Covas, havia mencionado na quarta-feira, 17, sobre o início desse projeto durante o evento de início do estudo de vacinação em massa em Serrana, onde o instituto vai pesquisar os efeitos da aplicação em larga escala da Coronavac. Por causa disso, muitos moradores de Araraquara passaram a achar que a cidade também receberia um programa de vacinação em massa. O Butantan esclarece que a informação, que viralizou nas redes sociais, não procede.
<b>Rastrear contatos teve sucesso no exterior, diz especialista</b>
Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, lembra que a Nova Zelândia passou a ser referência no controle da covid usando esse tipo de tecnologia. "Estamos falando de quebrar a cadeia de transmissão, o que no Brasil nunca foi feito."
Ele acredita que Araraquara pode ser o primeiro caso de sucesso no País em reverter a cadeia de transmissão, se houver uso adequado. "Temos dois cases extremamente importantes no Brasil: Araraquara e Serrana", afirma.
Alves observa que a medida precisa estar associada a outras, como alto número de exames. "Para cada teste positivo, o adequado é testar de 10 a 30 pessoas. Os contatos e os contatos dos contatos", afirma. "O que está acontecendo em Araraquara vai acontecer, se nada for feito, em vários municípios do Estado de São Paulo", diz ele, em referência ao colapso do sistema de saúde local.
Os testes para covid-19, considerados essenciais para o controle da doença, foram desprezados pelo governo Jair Bolsonaro. O Brasil tem hoje cerca de cinco milhões de exames encalhados e prevê até doar kits perto da data de validade para o Haiti.