A CBF tenta convencer a Fifa a liberar quase US$ 100 milhões (cerca de R$ 330 milhões) para o futebol brasileiro, prometidos ainda em 2014 durante a Copa do Mundo no Brasil, em um novo contrato que permitiria que o dinheiro fosse enviado ao País, sem passar pelo presidente Marco Polo del Nero. Na segunda metade de agosto, a entidade deverá enviar uma delegação para Zurique para negociar a pendência com a secretária-geral da organização, Fatma Samoura. Mas a reunião ainda não tem nada para ocorrer e a CBF aguarda um posicionamento da Fifa para confirmar a missão.
A proposta, na esperança de obter o dinheiro, é de que a CBF não receba os recursos e que o fundo seja inteiramente dado para projetos no Brasil, sem passar pela entidade de Marco Polo del Nero. A gestão dos recursos também ficaria com a Fifa e os detalhes ainda estão sendo desenhados.
Procurada, a Fifa não tinha uma declaração oficial sobre a reunião e nem sobre o destino dos recursos até o início da noite desta quarta-feira, na Suíça. O fundo de US$ 100 milhões, que deveria ajudar as regiões mais pobres do país a erguer centros de treinamentos e financiar o futebol feminino, havia sido uma promessa da Fifa como parte do legado da Copa de 2014. Mas, diante do indiciamento dos três últimos presidentes da CBF nos Estados Unidos, os repasses foram suspensos.
Em dezembro de 2016, uma delegação da CBF chegou a viajar para Zurique para apresentar à Fifa os projetos sociais que estariam sendo desenvolvidos, além de negociar como garantir acesso aos recursos. Mas não conseguiram convencer os cartolas na Suíça de que existem condições de checar como o dinheiro seria destinado. “As condições não estão dadas”, justificou naquele momento a entidade, por meio de seu Departamento de Imprensa.
Agora, um novo contrato está sendo desenhado pela Fifa para permitir que o dinheiro seja enviado ao Brasil, sem a participação do dirigente sob suspeita.
O Estado apurou que existem dois obstáculos para a liberação do dinheiro. O primeiro deles se refere à situação de Del Nero, indiciado nos EUA por corrupção. A Fifa ainda precisa se defender nos tribunais americanos e, diante desta situação, advogados aconselharam a entidade a romper relações financeiras com qualquer pessoa implicada na investigação. Repassar US$ 100 milhões ao comando de Del Nero, portanto, poderia ter consequências negativas para a Fifa no caso que, em 2017, vai ainda levar diversos cartolas aos tribunais em Nova York.
Outro argumento que também pesa é o fato de que a CBF ainda não concluiu suas reformas internas.
Dos US$ 100 milhões inicialmente prometidos, o Estado apurou que apenas cerca de US$ 8 milhões chegaram até o Brasil. Em dezembro de 2015, a CBF argumentou à reportagem que a culpa pela demora na liberação dos recursos era da Fifa.
“Segundo a FIFA, tendo em vista os acontecimentos recentes, a entidade está totalmente dedicada na revisão de seus processos de compliance financeiro”, indicou a CBF na ocasião.
Naquele momento, na capital do Tocantins, Palmas, um terreno de 40 mil metros quadrados havia sido comprado. A promessa era de que, até o final de 2015, as obras começariam para criar um centro de treinamento financiado pela Fifa, o que nunca ocorreu.
A federação beneficiada era uma velha aliada da CBF. Seu presidente, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), foi um dos políticos que recebeu doações da CBF para sua campanha ao senado.
Quintanilha, que preside a federação estadual há mais de 20 anos, chegou a ter um inquérito aberto contra ele no STF, com relatórios do Ministério Público apontando que, ao lado do irmão, ele foi suspeito de um montar um esquema de desvio e favorecimento de empreiteiras com recursos de emendas. O esquema, descoberto em 2000, teria a participação de empreiteiras e atingiu 80 obras.