Empregados da Ford fazem protestos em SP e BA para cobrar ajuda de governos

Funcionários das unidades da Ford em Taubaté (SP) e Camaçari (BA), que serão fechadas de acordo com o plano estratégico anunciado na segunda-feria pela montadora, fizeram manifestações na porta das fábricas e cobraram ajuda de autoridades locais para evitar demissões em massa.

Em assembleia na manhã desta terça-feira, 12, os funcionários da planta de Taubaté, no Vale do Paraíba, definiram o início de uma vigília por tempo indeterminado, com a intenção declarada de impedir a entrada e a saída da fábrica, tanto de pessoas quanto de materiais. Grupos vão se revezar a cada seis horas.

Segundo estimativas do Sindicato dos Metalúrgicos, o fim das atividades da montadora de motores representa um impacto de cerca de 10 mil empregos diretos e indiretos. A unidade emprega 830 trabalhadores diretos e 600 terceirizados.

Os trabalhadores estavam de licença remunerada quando receberam a notícia do fechamento da fábrica. "Começamos a achar as coisas estranhas, pois na sexta-feira fomos avisados que na segunda não era para ninguém vir trabalhar", conta Walter Donizeti Antunes, que há 10 anos trabalha na área de cabeçotes.

Prestes a se aposentar, Marques Lauber, que tem 26 anos de empresa, também foi surpreendido pela notícia. "É difícil acreditar, depois de tanto tempo aqui." Oficialmente, a licença de todos os trabalhadores da Ford em Taubaté vai até sexta-feira. Até o momento, a montadora não se manifestou sobre um novo acordo com os funcionários.

A prefeitura de Taubaté lamentou o fechamento da unidade da Ford na cidade e a dispensa dos funcionários. Em comunicado oficial, prometeu apoio da administração municipal aos trabalhadores. Está previsto para hoje um ato dos trabalhadores na Câmara Municipal da cidade.

<b>Equipamentos novos</b>

Na fábrica de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, os trabalhadores se reuniram em assembleia, por quatro horas, no estacionamento da unidade, e depois se reuniram em frente da Prefeitura da cidade. Na região, 6 mil empregos diretos e indiretos devem ser fechados.

Procurado, o prefeito Antônio Elinaldo (DEM) afirmou, por meio da assessoria, que todas as secretarias vão trabalhar para reduzir o impacto econômico que deve se estabelecer no município. Foi marcada para hoje uma carreata até a governadoria, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador.

Segundo os trabalhadores, novos robôs e máquinas haviam chegado recentemente à fábrica, o que aumentou a surpresa diante da decisão da montadora de deixar o País. Com o investimento em equipamentos, a última coisa que passou pela cabeça do operador de linhas Tiago Santos, de 31 anos, foi o fechamento da fábrica. "Ficamos e estamos todos muito surpresos. Eles deram folga para a gente por causa de um feriado local, aproveitaram e retiraram os equipamentos. Hoje (ontem), deram com a porta em nossa cara", disse.

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim afirmou que a ideia é cobrar "comprometimento do Estado". "Não podemos aceitar isso assim. Fomos surpreendidos da pior maneira, nós precisamos de respostas." O grupo, com cerca de 2 mil funcionários, chegou à unidade por volta das 5h30, horário em que o turno é iniciado, e encontrou as portas fechadas. Os funcionários da fábrica de Camaçari afirmaram que até o momento não foram informados sobre qualquer reunião para acertos de contas e fim dos contratos.

Depois de encerrar em 2019 a produção de caminhões em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a Ford comunicou anteontem que vai fechar neste ano as demais fábricas no País: Camaçari (BA), onde produz os modelos EcoSport e Ka; Taubaté (SP), que produz motores; e Horizonte (CE), onde são montados os jipes da marca Troller.

A montadora diz que tomou a decisão após anos de perdas significativas no Brasil. A multinacional acrescentou que a pandemia agravou o quadro de ociosidade e redução de vendas na indústria. "A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável", afirmou, em nota, Jim Farley, presidente da Ford.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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