O fundo gerido por Luis Stuhlberger projetou a vitória de Marina Silva (PSB) na eleição presidencial de outubro. Até então, a aposta era em Dilma Rousseff (PT). “Vemos uma possibilidade de 70% de Marina ganhar as eleições e, com isso, herdar um quadro econômico e social muito complicado e sem uma ampla base no Congresso que lhe garanta governabilidade”, informou o Fundo Verde, do Credit Suisse Hedging-Griffo. A gestão do fundo é feita por Stuhlberger, um dos mais respeitados gestores do mercado.
A avaliação foi feita no relatório de análise de desempenho do fundo em agosto. Tanto as pesquisas do Datafolha quanto as do Ibope apontam a vitória de Marina no segundo turno, mas os números publicados neste mês mostraram uma queda na diferença entre as duas candidatas.
Para o fundo, a entrada de Marina como cabeça de chapa pelo PSB na disputa presidencial era uma espécie de “black swan”, ou seja, um evento de probabilidade extremamente baixa de acontecer. Como ocorreu, alterou de modo expressivo os parâmetros de conversão de voto.
Segundo o relatório do fundo, desde então Dilma não consegue mais converter 90% dos votos que avaliam o governo como bom ou ótimo. Agora, esse porcentual caiu para algo inferior a 80%. Entre os que avaliam o governo como regular, a queda foi ainda maior, próxima a 14 pontos porcentuais. Mesmo assim, o Fundo Verde pondera que “ainda falta bastante tempo para o segundo turno, e essas taxas de conversão podem voltar para o padrão histórico, o que tornaria o quadro mais apertado”.
Próximo governo
Na avaliação do fundo, considerando a vitória de Marina, a herança econômica será “bastante difícil de lidar”. Entre os problemas, o fundo citou congelamento de preços, cenário delicado no suprimento de energia elétrica e na situação dos bancos públicos, déficit público e endividamento em alta, crescimento econômico baixo, piora no mercado de trabalho e inflação sob pressão.
O relatório acrescenta que isso implica medidas impopulares, que teriam que ocorrer sem a maioria no Congresso. Ademais, o fundo avalia que, diferentemente do que o mercado tem avaliado, há uma intersecção muito grande entre as questões econômicas e a situação social e política. “Como compatibilizar estabilidade da dívida com gastos crescendo muito acima do PIB e com novas promessas de aumentos com educação e saúde, salário mínimo, aposentados? Qual será a carga tributária necessária para pagar esse conjunto, e qual será o efeito da sua elevação sobre o já combalido crescimento econômico?”, questiona o relatório.
Essa dificuldade de aliar o econômico ao social tem sido o principal ponto de análise do fundo. A avaliação do Fundo Verde é de que não há margem de manobra em uma situação na qual o Produto Interno Bruto (PIB) cresce muito pouco e os gastos públicos continuam avançando de maneira expressiva, tendo em vista que o buraco inicial das contas públicas “já é grande o suficiente”.
Desse modo, apesar de projetar na vitória de Marina uma melhora no quadro de funcionários em ministérios, agências reguladoras e estatais, o Fundo Verde disse estar cético com relação a reformas estruturais.
O fundo gerido por Stuhlberger ainda acrescentou que os eleitores tendem a ver Marina de modo semelhante ao ex-presidente Lula por aliar o econômico ao social, mas o contexto é diferente. Lula tinha uma margem de manobra para aumentar os gastos em 8% ao ano acima da inflação, analisou o Fundo Verde, enquanto hoje não há nenhuma margem de manobra fiscal. O relatório também lembra que o boom do crédito, das commodities e da formalização ficaram para trás.