O Cultura Artística ofereceu o seu novo teatro para o governo do Estado de São Paulo, em uma tentativa de ajudar nos esforços pelo combate contra o novo coronavírus.
"Somos uma entidade de 107 anos, que esteve presente em alguns dos principais momentos da vida da cidade. Nós nos entendemos como parte da comunidade em que estamos inseridos e nos pareceu importante fazer essa oferta", explica o presidente do conselho de administração da entidade, Fernando Carramaschi.
O antigo Teatro Cultura Artística foi destruído em um incêndio em 2008. No ano passado, teve início sua reconstrução no mesmo local no centro da capital, a Rua Nestor Pestana. A primeira etapa já foi finalizada e a continuação da obra ainda não teve início, à espera de novos patrocínios – uma ampla campanha de arrecadação tem sido realizada pela entidade. Na segunda etapa, serão feitos os acabamentos do prédio e a instalação, por exemplo, de cadeiras, placas acústicas e sinalizações, entre outros elementos.
"Nossa primeira preocupação, antes de mais nada, foi consultar a construtora com relação a questões de segurança. E, com a garantia deles de que não há impedimento técnico, então nos sentimos livres para fazer a oferta ao governo", diz Carramaschi.
O projeto novo mantém elementos do prédio original, como a fachada com o painel de Di Cavalcanti, e traz ideias novas com relação ao tamanho das salas de espetáculo, por exemplo. Outro destaque do novo prédio é a abertura para a Praça Roosevelt, que torna ainda mais forte o diálogo com a cidade e o entorno, com uma parede de vidros que permite observar, de dentro, o interior do teatro – e vice-versa.
Para Carramaschi, essa é uma área que poderia ser utilizada. "Imaginamos, por exemplo, que, pela localização do teatro, esse espaço pode ser ocupado por um centro de triagem de pacientes para hospitais. Mas essa é apenas uma sugestão que fazemos. Estamos abertos para ajudar no que as equipes de combate ao vírus considerarem fundamental. Isso é o mais importante agora."
<b>Cancelamentos</b>
Como demais entidades promotoras de atividades culturais, a Cultura Artística, que atualmente realiza sua temporada na Sala São Paulo, à espera do final da construção de seu teatro, precisou suspender concertos de sua temporada internacional – assim como de sua série de recitais dedicada ao violão.
Para o final do março, estava prevista a apresentação do Trio Wanderer; para abril, concertos da Orchestre de Chambre Nouvelle Europe e do Quarteto Hagen; e, para junho, estavam programados recitais do pianista russo Daniil Trifonov e concertos da Orquestra Nacional Russa, com o maestro Kirill Karabits e o pianista Nicolai Lugansky. Os compromissos seguintes da programação são o duo formado pelo violoncelista Gautier Capuçon e o pianista Jerôme Ducros e a Orquestra Sinfônica de Bamberg, com regência de Jakub Hrusa e solos do pianista Peter Anderszewski.
"Eu estava na Europa no começo de março e lá foi ficando clara a tendência de fechamentos, com cancelamentos de concertos e a suspensão de atividades musicais e culturais. Isso fez com que o conselho logo se reunisse para se adiantar à crise, para que não fôssemos atropelados por ela. Nos permitiu que logo colocássemos nossos funcionários em home office e que conseguíssemos de alguma forma pensar a longo prazo, com remarcações e planos de retorno."
Os recitais do Trio Wanderer, por exemplo, dedicados aos 250 anos de Beethoven, já foram remarcados para os dias 7 e 10 de novembro. Já o recital do Duo Siqueira Lima, na série de violão, já tem nova data prevista para agosto.
"A postura dos nossos assinantes foi fantástica em todo esse processo. Eu posso contar nos dedos as pessoas que desistiram da assinatura e elas fizeram isso não por causa dos cancelamentos, necessários nesse momento, mas pela preocupação de eventualmente voltarem a frequentar espaços como uma sala de concertos, o que é completamente compreensível."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>