Um terreno baldio de 60 mil metros quadrados (o equivalente a seis campos oficiais de futebol) está ocupado desde sexta-feira, dia 31, por cerca de 450 famílias (aproximadamente 1.800 pessoas) do loteamento Jardim Catarina e do bairro de Santa Luzia, em São Gonçalo, cidade na região metropolitana do Rio.
Liderados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), os invasores reivindicam a construção de moradias populares no local, abandonado há pelo menos três décadas. Até então a área servia para descarte de entulho e carcaças de carros roubados, que ainda estão no local.
Moradores do entorno denunciaram ao líder da ocupação e coordenador nacional do MTST, Guilherme Simões, que no espaço ocorriam estupros e desova de cadáveres.
São Gonçalo tem 1,031 milhão de habitantes (estimativa do IBGE em 2014) e déficit de 20 mil moradias, segundo a prefeitura. O terreno em Santa Luzia está abandonado há tanto tempo que a prefeitura ainda não conseguiu identificar o proprietário nos arquivos do cartório da região.
Segundo Simões, pelo menos dois homens foram ao local para reivindicar a posse do terreno, mas não apresentaram documentos de comprovação. Em nota, o município não informou se pretende comprar ou desapropriar o terreno. Anunciou apenas que vai “ouvir as partes interessadas e buscar solução em conjunto com as outras esferas governamentais”. Informou também que recentemente assinou convênio com a Caixa Econômica Federal para a construção de 1.240 moradias.
Os invasores, desde a ocupação, procuram erguer os barracos às pressas, com ripas de bambu fincadas no solo e folhas negras de plástico servindo como teto e paredes. Eles demonstram organização no modo de agir. Três grupos foram formados. O primeiro capina o terreno. Outro abre buracos no chão, que servirão como base dos casebres. O terceiro recolhe os bambus em matagais.
A diarista Hirce dos Santos Dutra, de 31 anos, saiu da casa onde morava com os três filhos e a mãe no Jardim Catarina – o marido está preso. O aluguel de R$ 120 passou para R$ 170 em junho quando as ruas do bairro foram asfaltadas. Sem condições de pagar, resolveu se juntar à ocupação. “Estamos aqui porque queremos uma casa para nossas famílias”, disse.
A cabeleireira Juliana Mota Freiras, de 27, que morava de favor na casa de uma amiga com os três filhos, apresenta condições para deixar o terreno. “Só saímos daqui com (a garantia do) aluguel social, porque não temos para onde ir”.
Na ocupação, a comida é feita por voluntários em uma cozinha coletiva. A água vem de um poço artesiano cedido pela moradora de uma casa ao lado da ocupação. “Os moradores do entorno disseram que o terreno servia para uma série de atividades ilícitas”, disse Simões.