A privatização de ruas sem saída é vista com resistência pelos moradores que já vivem em vilas fechadas por portões. A preocupação está no valor que seria cobrado pela Prefeitura para que o uso da área pudesse ser restrito aos proprietários. “Acho que isso depende muito do valor que seria cobrado. Talvez seja inviável”, disse o publicitário Eduardo Koch, de 35 anos, morador da Rua Aziz Jabur Maluf, na Vila Clementino, zona sul da cidade.
Lá, um portão de barras metálicas verdes isola a rua com 19 casas do movimento do bairro desde 1995. Segundo Koch, esse foi o ano em que ocorreu um assalto seguido de estupro que traumatizou moradores e motivou a instalação da estrutura. Atualmente, Koch se mobiliza pela manutenção do portão e até criou uma página do Facebook denominada “vilas com portões” para reunir interessados em debater o tema. “O governo não dá conta de te dar essa segurança. Aqui, a gente está seguro. Vila sem saída não é passagem, é destino. Não tem por que ninguém querer entrar. Por que deixaria aberto?”
A proposta de venda das ruas enfrenta resistência também da Associação dos Moradores e Amigos de Vila Mariana, um dos bairros da cidade com a maior quantidade de ruas sem saída notificadas pela Prefeitura. O presidente da entidade, Oswaldo Luiz Baccan, diz que a ideia é absurda. “Vamos pagar exatamente para quê? Já pagamos por tanta coisa e ainda teríamos de pagar por algo que nos dá segurança?”
Remoção. Há cerca de um mês, moradores de 289 vilas fechadas foram intimados a retirar ou readequar os portões, permitindo ao menos a passagem de pedestres sem obstáculos. Os avisos, em alguns casos, foram acompanhados de alertas de destruição dos gradeados, se não houvesse a retirada em cinco dias úteis.
Na Rua Lenine Severino, que fica na Vila São Francisco, zona oeste, os moradores afirmam que o acesso aos pedestres não é bloqueado, mas apenas durante o dia. Depois de notificados, os proprietários das 11 casas da rua temem que a Prefeitura derrube o bloqueio, instalado em 2005. “Ameaçaram os vizinhos e disseram que viriam com o trator. Essa é uma decisão arbitrária”, reclamou a pesquisadora Margarida Adamatti, de 34 anos. A Subprefeitura do Butantã, responsável pela região, confirmou que o fechamento foi realizado de forma irregular, “pois bloqueia também o passeio público”. Os responsáveis devem regularizar a situação.
A dona de casa Teresinha Cicone Marin, de 72 anos, também demonstrou preocupação e se disse abalada com a possibilidade de retirada do portão que está instalado na sua vila há cerca de dez anos, no bairro do Carandiru, zona norte. “O portão sempre foi uma coisa boa para nós. Ficava gente escondida da polícia durante a madrugada aqui antes. Eles vão tirar e a gente não vai mais dormir sossegada”, lamentou.
Gestão municipal. A Secretaria da Coordenação das Subprefeituras esclareceu que segue determinação judicial para fazer o levantamento dos endereços e é oferecido o prazo de cinco dias para adequações. “Caso o munícipe não retire o portão, os agentes das subprefeituras são acionados para realizar a remoção”, informou a pasta, que ainda não retirou nenhum bloqueio.