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Entrar antes na faculdade é risco para adolescente

Entrar na faculdade sempre foi sinônimo de atingir a vida adulta, mas alguns adolescentes têm seguido um atalho. Aprovados no vestibular antes de completar o ensino médio, eles conseguem na Justiça o direito de virar universitários. Especialistas em educação, no entanto, defendem a importância de não pular etapas.

A boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) colocou Alberto Flangini, aos 16 anos, entre os aprovados em Sistemas de Informação na Universidade Federal do Acre (UFAC) em 2014. A Justiça exigiu que ele completasse o ensino médio. “Estudava na faculdade de manhã, trabalhava à tarde e ia à noite a uma escola estadual”, diz ele, hoje com 17 anos e que foi aprovado quando estava no último ano. “Não chegou a prejudicar as notas, mas foi um sufoco.”

Flangini enfrentou outras batalhas depois de entrar. Sem o trânsito em julgado da decisão (quando se esgotam as possibilidades de recurso), sua matrícula chegou a ser cancelada no meio do semestre. Com isso, ele deixou de ir às aulas durante um mês até que outra liminar garantisse a vaga.

A legislação exige que, para cursar o ensino superior, o aluno precisa finalizar o médio. Depois de alterações no Enem em 2009, o exame passou a valer também como certificação do ensino médio, mas essa possibilidade só vale para maiores de 18 anos.

Nos últimos cinco anos, o advogado Edilberto Dias, de Goiás, moveu mais de 300 ações em quatro Estados para que jovens entrassem na universidade sem concluir o ensino médio. Segundo ele, é mais fácil garantir a vaga em cursos privados. Já em federais, o caminho é mais complicado. “A Justiça entende que se tem candidatos com ensino médio completo, por que entrar alguém que ainda não tem?” Nestes casos, o pedido é para que a Secretaria de Educação local aplique uma prova de proficiência.

Certificado

A nota alta no Enem foi apenas o primeiro passo para o ingresso de José Victor Teles em Medicina na Universidade Federal do Sergipe (UFS). Com apenas 14 anos, ele precisou de uma decisão judicial. “Não fiz o Enem com a intenção de entrar, mas dei o meu máximo”, conta ele, cuja história chamou a atenção por ser aluno de escola pública.

A Justiça deu a ele o direito de fazer uma prova de proficiência, aplicada pela Secretaria da Educação, como certificação do ensino médio. A receita para o sucesso precoce, segundo ele, envolveu rotina intensa de estudos. Além das aulas pela manhã no colégio, Teles passava horas no computador em busca dos conteúdos do 2º e do 3º anos do ensino médio, que ele nem chegou a cursar. “A internet foi preponderante: assistia a vídeo-aulas e fazia questões do Enem”, diz ele, que é de Itabaiana, a 50 quilômetros de Aracaju.

O educador José Fernandes Lima, do Conselho Nacional de Educação (CNE), afirma que há riscos na visão de que é importante que os filhos se adiantem. “É um enorme prejuízo o adolescente deixar de conviver na escola com as pessoas da sua idade e aprender outras coisas que vão além do conhecimento específico das disciplinas”, diz ele. “Reforça a visão do utilitarismo da educação.”

Lima pondera que há casos excepcionais, principalmente de aptidões para a matemática, em que a melhor opção é não deixar o tempo passar. A educadora especialista em Neuropsicologia Adriana Fóz concorda com as exceções, mas ressalta que o próprio cérebro tem seu tempo de formação. “O cérebro tem regras. Há regiões cerebrais, que comandam capacidades de atenção, raciocínio e abstração, que só se desenvolvem totalmente aos 18 anos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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