O dia foi de correção no mercado de juros, com taxas em alta, sobretudo as de longo prazo, na esteira da piora da percepção de risco político e fiscal. A quarta-feira, 16, reuniu uma série de fatores pró-ajuste nas taxas, com profissionais destacando a nova rodada de críticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao governo e a postura do presidente Jair Bolsonaro em relação à agenda liberal e também a guerra das vacinas. O dólar em alta igualmente pesou sobre os juros. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso, que chegou a estar ameaçada no começo da semana, foi aprovada e agora aguarda sanção presidencial. Outro destaque do dia, a reunião do Federal Reserve, não chegou a mexer com os preços dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI).
A taxa do DI para janeiro de 2022 fechou em 2,985% a sessão regular e em 2,98% a estendida, de 2,949% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 terminou em 4,35% (regular e estendida), de 4,28% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 5,834% para 5,93% (regular e estendida) e a do DI para janeiro de 2027 encerrou a regular e a estendida em 6,76%, de 6,67% ontem.
Com os mercados internacionais em clima de espera pelo Fed, os fatores internos é que acabaram definindo o desenho da curva. As pesadas críticas de Maia, que começaram ontem e hoje tiveram sequência, em meio à disputa pelo comando da Câmara, trazem incertezas sobre o rumo das reformas. Em café da manhã com jornalistas, Maia disse que Pazuello é um desastre, Guedes está enfraquecido e Bolsonaro é insensível.
Além do impacto das declarações de Maia, o mercado viu com preocupação a postura do presidente ontem na Ceagesp, descartando a possibilidade de privatização do entreposto, e que só não pesou ontem em função do exterior favorável e leilão de NTN-B menor do que o esperado. "Não se mostrou comprometido com a agenda liberal e contradiz seu próprio discurso de que quem atrasa a agenda de reformas é o Congresso", afirmou Danilo Alencar, trader da Sicredi Asset.
A perspectiva de manutenção liquidez global farta, no entanto, acaba segurando uma correção mais firme as taxas, mesmo com os ruídos políticos. Em live nesta tarde, Sérgio Goldenstein, analista independente da Ohmresearch e ex-chefe do Departamento de Mercado Aberto do Banco Central, lembrou que o fluxo para emergentes, estimulado pela eleição de Joe Biden nos EUA e avanço nas vacinas contra Covid-19, vem favorecendo a gestão da dívida pelo Tesouro em dezembro. "Além disso, foi desarmada uma bomba fiscal de curto prazo quando o governo anunciou que não prorrogaria o auxílio emergencial", lembrou.
Para ele, o mercado ainda tem uma visão otimista sobre o fiscal, ao contar com avanço das reformas e manutenção do teto de gastos, mas alerta que "o risco de populismo é alto" se a retirada dos benefícios lançados por causa da pandemia resultar em perda de popularidade do presidente.