Dólar ignora euforia na Bolsa e sobe a R$ 5,10 com demanda no balcão e fiscal

O dólar teve novo dia de alta, em descompasso com a euforia vista na Bolsa, que superou os 118 mil pontos, e a queda no risco Brasil, medida pelo derivativo Credit Default Swap (CDS), que chegou a cair a 148 pontos, o menor nível em 9 meses. Profissionais das mesas de câmbio dizem que pesou nesta quarta-feira a demanda por dólar à vista, comum na reta final do ano, para empresas e fundos remeterem juros e dividendos ao exterior. Como reflexo da pressão pela demanda, as cotações no mercado de balcão ficaram acima das do dólar futuro, e o chamado dólar casado, que mede essa diferença, ficou negativo na tarde de hoje. Além disso, as mesas seguiram monitorando a questão fiscal, em dia de votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), e a relação da Câmara com o Planalto, após as novas acusações do presidente Rodrigo Maia, que chamou Jair Bolsonaro de "insensível".

A alta perdeu um pouco de fôlego na reta final dos negócios, com a entrevista do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que prometeu manter os estímulos extraordinários por um longo período, sinalizando que as compras de ativos podem ficar ainda maiores. "O Fed permanece comprometido em apoiar a economia", destaca a High Frequency Economics, Rubeela Farooqi, em nota. Após Powell, o dólar passou a cair ante moedas fortes e se enfraqueceu em alguns emergentes. No fechamento doméstico, o dólar à vista encerrou em alta de 0,34%, cotado em R$ 5,1062. Já o dólar futuro para janeiro fechou estável, a R$ 5,0820.

A quarta-feira foi marcada por novos relatos de entrada de capital externo para o Brasil, em busca de investimentos na Bolsa. Este mês, até o dia 11, entraram US$ 2,602 bilhões em valores líquidos pelo canal financeiro, segundo dados do Banco Central divulgados hoje. Um diretor de tesouraria destaca que essa entrada tem ajudado a aliviar a pressão para o dólar no balcão. Os leilões diários extras de swap do BC também têm ajudado.

Para o presidente (CEO) da BGC Liquidez, Erminio Lucci, o Brasil tem se beneficiado do fluxo internacional aos emergentes, que pegou a América Latina descontada em relação a outras regiões. O fluxo e a atuação do BC, comenta Lucci, tem ajudado a dar alívio no câmbio em um período historicamente marcado por maior pressão, por causa das remessas ao exterior e, este ano, por causa da necessidade dos bancos de desfazerem a proteção em excesso, o chamado overhedge, para ativos no exterior. A desmontagem desse hedge precisa ser feita até o final do ano. Lucci destaca que a agenda fiscal vai seguir como foco principal do mercado, como foi hoje com a votação da LDO, aprovada pelo Congresso no final da tarde. Para ele, a discussão sobre os novos presidentes da Câmara e do Senado também deve ser acompanhada de perto pelo mercado.

Como o Brasil não tem moeda forte, o estrategista em Moedas e Credito Globais e contribuidor da Ohmresearch Independent Insights, Daniel Miraglia, ressalta que a economia brasileira precisa tomar ainda mais cuidado com as contas fiscais, pois a deterioração nos preços dos ativos é rápida. Dólar, bolsa e juros tiveram melhora muito por conta de fluxo de dinheiro de curto prazo, "smart money", para mercados emergentes como um todo, com os investidores em busca de risco, disse ele. "Para vir um fluxo específico para Brasil a grande questão para o mercado é o fiscal", afirmou Miraglia em live nesta tarde.

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