Pela primeira vez desde que teve sua nomeação suspensa para a Casa Civil, há 41 dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou nesta segunda-feira, 25, ao Palácio do Planalto. Foi ao gabinete da presidente Dilma Rousseff, no terceiro andar, e conversou com ela e com ministros do PT sobre estratégias para enfrentar o processo de impeachment no Senado. Depois, todos foram jantar a sete quilômetros dali, no Palácio da Alvorada.
Para Lula, Dilma deve denunciar o “golpe” em todos os seus discursos. A ordem é para que o PT e os movimentos sociais não deem trégua ao vice-presidente Michel Temer (PMDB). O ex-presidente vai conversar nesta terça-feira, 26, com senadores do PT, a fim de traçar o roteiro da ofensiva. Ele também terá um encontro, nos próximos dias, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Apesar de manterem o discurso oficial de que é possível virar o jogo do impeachment, parlamentares do PT e de partidos da base aliada do governo dão como certa a aprovação do afastamento de Dilma na primeira votação, no plenário do Senado, prevista para o dia 15 de maio. Se este cenário for confirmado, a presidente será obrigada a se afastar por até 180 dias.
Dilma já admite, nos bastidores, a possibilidade de defender a proposta que prevê a convocação de eleições presidenciais para encurtar em dois anos o seu mandato, mas ainda avalia o melhor momento de assumir a estratégia. Ministros próximos a Dilma, no entanto, afirmam que isso já é “fato consumado” porque ela não terá governabilidade com o País dividido, mesmo se não sofrer impeachment no julgamento final do Senado.
Pelo cronograma traçado em gabinetes do Planalto, o envio da proposta de emenda constitucional (PEC) ao Congresso, sugerindo eleições presidenciais em outubro – mês das disputas pelas Prefeituras -, ocorreria justamente no período do provável afastamento de Dilma.
A PEC precisa ser votada em dois turnos em cada Casa do Congresso e só é aprovada se obtiver três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49).
Na avaliação de Lula, se a presidente for mesmo afastada, a chance de ela retornar ao Planalto é remota. Mesmo assim, a estratégia consiste em infernizar a vida de Temer durante o provável “exílio” de Dilma, para expor as “fragilidades” do peemedebista e montar uma espécie de “governo paralelo”, em oposição ao novo ocupante do Planalto.
“Se Temer assumir, ele não dura três meses no cargo porque não aceitaremos isso. Haverá protestos em todo o País”, insistiu o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Nós não imaginamos que o PT queira exercitar a sua capacidade de fazer oposição fora da luta política convencional”, provocou o ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB), aliado de Temer.