Para especialistas, restrição de vacina da Pfizer a alérgicos é medida preventiva

O alerta emitido nesta quarta-feira, 9, por órgãos reguladores do Reino Unido de que pessoas com um "histórico significativo" de reações alérgicas não devem receber a vacina contra a covid-19 da Pfizer e da BioNTech gerou preocupação entre a população que está ansiosa para a chegada de uma vacina que previna contra a doença – ou pelo menos reduza a sua gravidade. De um modo geral, as vacinas, assim como medicamentos, podem causar reações anafiláticas ou outras reações alérgicas, mesmo em pessoas que não têm histórico de reações alérgicas.

"As reações alérgicas a vacinas são muito raras, mas eventos são esperados. E como a vacina da Pfizer é nova, assim como todas as vacinas contra a covid-19, nós vamos começar a observar mais eventos adversos, incluindo possíveis reações alérgicas. É claro que o fato é preocupante, principalmente pelo que foi reportado, foram reações anafiláticas, que são reações mais graves do ponto de vista de alergia e requerem tratamento muito imediato. No entanto, a restrição ou contraindicação para que pessoas com alergias graves não tomem a vacina é uma medida de precaução", avalia Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

A recomendação deve durar enquanto autoridades locais investigam dois casos graves de reação alérgica ocorridos no primeiro dia de vacinação em massa no país. O Reino Unido começou a imunizar idosos e profissionais de saúde na terça-feira, 8. Devem ficar atentas pessoas que já sofreram choque anafilático e aqueles que precisam andar com caneta com adrenalina injetável.

Na opinião da coordenadora do Departamento Científico de Imunização da ASBAI, a medida é preventiva e essencial até que tudo seja esclarecido. "Não podemos descartar que existe uma relação temporal de que a vacina causou reação alérgica, mas a gente ainda não sabe qual foi o componente da vacina que causou a reação. Se realmente essas pessoas que receberam a vacina já eram alérgicas ou se isso é compatível com um componente da vacina. Tudo está sendo investigado ainda. Mas é importante deixar claro que a restrição é somente para pessoas que tiveram anteriormente algum quadro de reação alérgica grave", afirma.

A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, também entende a decisão do Reino Unido como uma medida de precaução. Segundo ela, a preocupação se dá, principalmente, em razão do momento em que o mundo vive diante de uma vacina contra o novo coronavírus. "Estamos em um momento vivendo a chegada de uma vacina nova, por isso, toda precaução para proteger não só a população, mas também a vacina, é necessária. Neste momento, todo cuidado deve ser feito para garantir a segurança e a confiança da população na vacina."

A vice-presidente da SBIm pontua que toda vacina tem entre as suas contraindicações histórico de anafilaxia para determinado componente. "A vacina da febre amarela é contraindicada para pessoas que têm histórico de anafilaxia ao ovo da galinha, por exemplo. Quando falamos em um quadro de alergia grave, não é uma pessoa ter alergia leve, a qualquer coisa, mas um quadro de alergia realmente grave."

Conforme o comunicado, o alerta é para pessoas com histórico anterior semelhante à anafilaxia, reação alérgica grave e de rápida progressão que pode provocar a morte, ou pessoas que precisam carregar adrenalina autoinjetável, recomendada para controlar casos em que a crise alérgica evolui de forma rápida e aguda.

"As autoridades usaram os termos anafilaxia e uso de adrenalina autoinjetável justamente para caracterizar a reação como grave porque nas reações alérgicas a gente tem graus variados de alergia, podendo ter somente uma coceira na pele ou inchaço discreto nos olhos. A anafilaxia é o grau de maior gravidade de reações alérgicas. Quando fala que a pessoa tem anafilaxia quer dizer que a pele foi acometida e mais algum outro órgão do corpo, como o sistema respiratório ou sistema gastrointestinal", explica Ana Karolina.

Para ficar bem caracterizado que a contraindicação é apenas para quadros de alergias graves, os órgãos reguladores do Reino Unido estão considerando ainda que quem usa adrenalina autoinjetável é quem teve esse tipo de gravidade alérgica. Usada por pessoas com histórico de anafilaxia, a adrenalina autoinjetável parece uma caneta de insulina que o paciente pode aplicar em situações de emergência em que se expôs inadvertidamente.

"Quem tem alergia grave a picada de um inseto ou a algum alimento, por exemplo, tem risco de anafilaxia. No exterior, é muito comum pessoas com esse tipo de alergia carregar aplicador na bolsa para casos de emergência e dificuldade de chegar a tempo a um serviço médico", afirma Isabella.

Por isso, antes de tomar a vacina, é importante que a pessoa informe ao profissional de saúde seu histórico médico, se teve algum problema de saúde ou alergia. "Mesmo que para a pessoa não seja relevante, para o profissional de saúde é relevante. Contar se faz algum tratamento para o profissional julgar pelos critérios técnicos se há o risco ou não da vacinação", orienta a coordenadora do Departamento Científico de Imunização da ASBAI.

"É um cuidado natural e deve fazer parte da rotina, não somente para a vacina da covid-19, mas para todas as vacinas", acrescenta a vice-presidente da SBIm.

Como não dá para prever se a pessoa terá ou não alguma reação alérgica grave ao tomar a vacina, os serviços que fazem a vacinação também precisam estar preparados para o atendimento de pacientes com reações imediatas.

"Isso vale para todas as vacinas, não somente novas vacinas como da covid-19. Já existem portarias no Brasil, inclusive, regulamentando todos os serviços que fazem a vacinação, sejam públicos ou privados. Teoricamente, a gente imagina que todos os serviços estejam preparados para esse tipo de atendimento imediato", afirma Isabella.

No Reino Unido, o NHS afirmou que todos os hospitais que participam do programa de vacinação foram informados das ocorrências. Os órgãos reguladores pediram que os centros onde as vacinas estão sendo administradas tenham instalações adequadas para atender aos afetados em caso de algum tipo de reação.

Os dois profissionais de saúde que sofreram uma reação após receberem a primeira das duas doses da vacina sofreram uma reação anafilática, logo após serem vacinados. Logo após as reações, receberam o tratamento adequado e passam bem, de acordo com as autoridades sanitárias.

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