O governo argentino decidiu liberar 30% a mais de dólares a importadores de alguns setores da economia a partir de quarta-feira, 1. A medida pretende facilitar o pagamento de dívidas e a compra de insumos e peças no exterior. O objetivo final é estimular o consumo interno, em uma época em que as categorias terminam de negociar aumentos anuais e o governo reajusta bolsas de subsídios. A liberação parcial não deve resolver, entretanto, o gargalo que afeta exportadores brasileiros.
“Os brasileiros não devem esperar pagamento de dívidas, mas talvez vender um pouco mais para a Argentina”, afirma Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb. Segundo ele, o governo argentino conseguiu no primeiro semestre reunir dólares, aumentou suas reservas e precisava elevar o consumo de importados para não enfrentar pressão inflacionária no segundo semestre. Haverá eleição presidencial em outubro.
Outra razão para relativizar o otimismo em relação à medida é que a liberação das Declarações Juradas de Importação (DJA) não será proporcional ao maior acesso a divisas. Essas autorizações dependem da Secretaria de Comércio, que, em função dos projetos anuais de produção, emprego e preços, as aprova, em geral lentamente. Se o importador consegue a DJA, tem de passar ainda pelo Banco Central, que pode permitir ou não o acesso aos dólares para compra de insumos ou pagamento de credores. “As 50 maiores empresas têm dívidas acumuladas. Entregaremos essa informação ao Banco Central para que se possa reduzir esse passivo, que prejudica nossa relação com os fornecedores”, disse Diego Pérez Santisteban, que coordena a Câmara de Importadores, ao jornal Ámbito. Segundo o órgão, essa dívida chegou a US$ 6,8 bilhões no fim do primeiro trimestre.
As empresas beneficiadas serão exatamente as cerca de 50 maiores. Ficam fora do pacote as pequenas e médias, como a de Guillermo Velez, dono de uma empresa que vende sistemas que reabastecem de tinta impressoras sem necessidade de troca do cartucho. “Com o bloqueio aos dólares tenho 24 funcionários. Antes eram 50 e eu poderia ter 100 se pudesse produzir plenamente”, diz.
Entre as áreas alvo do governo estão a de eletrônicos da região da Terra do Fogo e a de automóveis – que esta semana teve confirmada a renovação do pacto automotivo com o Brasil dentro dos padrões anteriores. A renovação do pacto representa a manutenção, por um ano, da relação que limita o desequilíbrio da balança do setor.
O Brasil exporta o equivalente a US$ 1,5 para cada US$ 1 importado da Argentina. A exportação de veículos argentinos caiu 25,5% em maio na comparação com o mesmo mês de 2014. Segundo a Abeceb, o setor automotivo foi responsável por 62% da queda das exportações da Argentina para o Brasil em 2014, que registraram retração de 14%. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.