O ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou que os comunicados enviados pelo Itamaraty para “explicar” o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff foram um “contra-ataque” do governo do presidente em exercício Michel Temer. “Quando nós somos atacados, reagimos, até num tom menor. Nós estamos sendo atacados. Mas nós não podemos ser acusados de nos defender. Não tem sentido”, disse o ministro, que usou uma expressão francesa para justificar. “Instruímos o corpo diplomático inteiro nessa direção”, afirmou Serra, que participou de reunião para tratar questão de fronteiras no Palácio do Planalto.
Presente na coletiva, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, endossou o posicionamento de Serra e informou que também enviou aos militares um comunicado com o mesmo teor. “Enviamos uma circular, um comunicado para desmistificar o processo que está acontecendo no Brasil”, disse Jungmann.
Depois das críticas dos países “bolivarianos” ao afastamento da presidente Dilma e da divulgação de notas do governo brasileiro rebatendo-as em tom duro, o Itamaraty enviou ontem uma correspondência a todas as embaixadas com o objetivo de dar aos diplomatas condições de rebater “equívocos” sobre o processo de impeachment em curso no País. O alerta é que avaliações erradas prejudicam a imagem do Brasil.
Fronteiras
A pedido de Serra, o presidente em exercício incluiu em sua agenda hoje uma reunião para tratar do tema de fronteira. Apesar disso, Temer só ficou na abertura do encontro. Após a reunião, que contou com diversos ministros e representantes de órgãos federais, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, anunciou rapidamente que Temer havia determinado a criação de um comitê de coordenação e controle de fronteiras.
Ao explicar os objetivos do governo com as medidas, Serra disse que a ideia era aprofundar o diagnóstico atual das fronteiras brasileiras e fazer com que as ações tenham caráter permanente. Ele disse ainda que esse grupo será coordenado por Brasil e Argentina e que outros países serão chamados para cooperar.
Questionado se haveria problemas com países como Bolívia e Venezuela, que são contrários ao impeachment, Serra afirmou que a Venezuela “não estava cogitada” e que no caso da Bolívia, “a despeito do posicionamento” de Evo Morales, o Brasil tem relações econômicas normais com o país e que não vê dificuldades em criar laços em questões que interessam aos dois. “O governo boliviano será persuadido a participar”, disse.
Ao destacar números que envolvem o contrabando, Serra disse que “se o crime é organizado, nós precisamos nos organizar”. “O contrabando corrói ofertas de emprego e arrecadação de tributos”, afirmou.
O ministro disse ainda que as ações não demandaram muitos recursos, já que as verbas já existentes serão otimizadas. “Se for necessário algum recurso (para fronteiras), não estará fora das possibilidades”, disse.
Jungmann, da Defesa, afirmou que a pasta vai implantar um sistema integrado de fronteiras e iniciar uma operação que vai envolver pelo menos 15 mil homens. Segundo ele, o Brasil está alugando um satélite de baixa altitude para melhorar o monitoramento. “Vamos poder acompanhar todo e qualquer movimento em nossas fronteiras”, disse.