No relatório divulgado no início da tarde desta quarta-feira, 15, em que revisou diversos indicadores da economia brasileira, o Itaú Unibanco avaliou que apesar da redução dos desequilíbrios fiscais, o corte de despesas ainda não é suficiente para compensar a queda na arrecadação e, em meio a um cenário de enfraquecimento da atividade, a implementação do ajuste fiscal ficou mais difícil.
Para o banco, os indicadores antecedentes e coincidentes sinalizam que a retração da atividade econômica pode ser mais longa e intensa do que o esperado anteriormente, apontando, inclusive, uma queda no terceiro trimestre de 2015.
A estimativa para este ano foi revisada para queda de 2,2% do Produto Interno Bruto, ante 1,7%, e a projeção de superávit primário foi cortada para 0,5% do PIB, ante 0,7% anteriormente. “Avaliamos que o impacto da queda na atividade econômica no superávit primário deste ano seja de R$ 43 bilhões, ou 0,7% do PIB (R$ 28 bilhões, 0,5% do PIB anteriormente)”, diz o relatório enviado a clientes. O corte já considera um cenário de maior volume de receitas extraordinárias ainda neste ano, totalizando R$ 15 bilhões. A estimativa anterior era de R$ 10 bilhões.
O Itaú Unibanco considera, no entanto, que o corte dos gastos públicos ainda é insuficiente para compensar o recuo do lado das receitas, mesmo reconhecendo uma “mudança significativa” no padrão dos gastos públicos com a adoção de uma postura contracionista do lado do gasto.
“O gasto federal recuou 1,1% em maio ante o mesmo mês do ano passado, e 1,3% no acumulado do ano, em termos reais”, enquanto, em 2014, houve avanço de 5,2%, e, em 2013, de 6,4%, em termos reais. Por outro lado, houve aumento de gastos obrigatórios, especialmente com previdência (4,3%), o que “mostra a dificuldade de se implementar um ajuste fiscal relevante do lado da despesa”, observa o Itaú Unibanco.
Dívida pública
As recentes mudanças no nível do câmbio devem ampliar a diferença entre a dívida líquida e a dívida bruta, segundo o Itaú Unibanco. “A depreciação é favorável à dívida líquida, devido ao ajuste patrimonial positivo sobre as reservas internacionais. A nosso ver, tanto a dívida bruta quanto a líquida apresentarão tendência ascendente, porque o superávit primário segue abaixo do nível consistente com a estabilização da dinâmica da dívida”, diz a nota.
A instituição financeira classifica como “surpreendentemente positivo” o resultado positivo acumulado pelos governos regionais em 2015. Segundo o banco, Estados e municípios acumularam superávit primário de R$ 19,2 bilhões (0,3% do PIB esperado para o ano completo), superior à meta de R$ 11 bilhões (0,2% do PIB) para este ano.
“O desempenho positivo reflete uma postura mais rígida do Tesouro Nacional em termos de financiamento e uma maior arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a energia (impulsionada pelo aumento de preços de energia)”, explica o Itaú Unibanco. A projeção, no entanto, é de uma redução nos próximos meses, com os governos regionais encerrando 2015 com um superávit primário em linha com a meta.
Já para o governo central, deve haver dificuldade em alcançar a meta de 2015, de R$ 55 bilhões (0,9% do PIB). O Itaú Unibanco ressalta que, no acumulado do ano, o superávit primário do governo central chegou a R$ 6,6 bilhões. “Considerando que o período entre janeiro e maio representa historicamente 52% do resultado anual, os R$ 6,6 bilhões deste ano ressaltam a dificuldade para o governo central de alcançar a meta de 2015”.