O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, criticou nesta segunda-feira, 9, declarações da nova secretaria da Cultura, Regina Duarte, sobre existir uma "facção" que deseja retirá-la do cargo.
"Não foi boa (a entrevista)", disse Ramos em rápida conversa com o jornal O Estado de S.Paulo. Ele também afirmou se opor a críticas da atriz sobre o jornalista Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares.
"Não pode dizer que é um problema. Ele já recebeu apoio do presidente Bolsonaro", declarou. Camargo gerou repúdio do movimento negro ao afirmar que há um "racismo nutella" no Brasil, mas ganhou respaldo do presidente Jair Bolsonaro para ser mantido no cargo.
Em entrevista à <i>TV Globo</i> no domingo, 8, a nova secretária da Cultura disse que os ataques recebidos desde que assumiu o cargo vieram "de uma facção" que quer ocupar a vaga para a qual foi indicada. Ela chamou ainda de "ativista" e "problema" o presidente da Palmares.
Ramos também reagiu nas redes sociais às declarações da atriz. "O uso do termo facção em entrevista, sem nomear seus supostos integrantes, dá a entender que há divisões inexistentes e inaceitáveis", escreveu o ministro.
Apontado como um dos fiadores da entrada de Regina no governo, Ramos tornou-se alvo de críticas de integrantes do movimento conservador após a entrevista de Regina. O bolsonarista Allan dos Santos, do site Terça Livre, criticou o ministro Ramos nas redes sociais. "O problema, na minha opinião, não é tanto o boneco (Regina Duarte), mas o ventríloquo (@MinLuizRamos), o amiguinho da Rede Globo", escreveu ele.
O ministro da Secretaria de Governo disse ao Estado que foi às redes sociais para "deixar claro" que está ao lado do presidente Bolsonaro.
<b>Regina sob ataques</b>
Desde que foi anunciada ao cargo, após demissão de Roberto Alvim por parafrasear o nazista Joseph Goebbels, a atriz tem sido atacada por integrantes do movimento conservador e seguidores do escritor Olavo de Carvalho.
A entrada de Regina no governo teve apoio da ala militar. Para interlocutores do governo, ela ainda está "aprendendo" a lidar com a política, mas, mesmo sob ataques, deve permanecer no cargo.
Camargo é um dos poucos olavistas que seguem na Cultura após uma série de demissões feitas por Regina na cultura. O presidente da Palmares disse à reportagem, na última semana, que Regina pediu a sua demissão, mas o presidente Bolsonaro e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, negaram. "Regina quer abrir diálogo com o movimento negro. Digo que é ingenuidade, para ser gentil", disse Camargo. "Desejo que ela faça uma grande gestão", completou.
<b>Olavo de Carvalho</b>
O escritor, professor e guru conservador Olavo de Carvalho não gostou da entrevista de Regina Duarte. Nela, a atriz e atual secretária especial de Cultural fala que está tendo de enfrentar uma "facção" em Brasília. Em um de seus posts nas redes sociais, ele escreve que Regina Duarte "não está boa da cabeça".
"A Regina Duarte age como se o seu emprego no governo lhe pertencesse por direito natural contestado apenas por uma facção bolsonarista, quando na verdade foi essa facção, representada pelo presidente da República, quem lhe deu o emprego. A óbvia inversão psicótica da realidade mostra que a véia não está boa da cabeça e não deve ocupar cargo nenhum", escreve Olavo de Carvalho no Facebook alternando posts sobre a polêmica envolvendo Dráuzio Varella e a presidiária trans Suzi Oliveira e a entrevista da secretrária da Cultura.
Na sexta-feira, 6, Olavo de Carvalho já havia manifestado seu arrependimento por ter sugerido o nome da atriz para o cargo na Secretaria Especial da Cultura dizendo que o posto estava "acima de sua capacidade".
Já o ator de deputado federal Alexandre Frota, também nas redes sociais, questionou como fica o cinema nacional. Na mesma entrevista ao Fantástico, ela disse que não se deve fazer filmes para as minorias com dinheiro público. "A pergunta é: como fica o cinema nacional? Regina Duarte está sendo extremamente ideológica, pautada por Bolsonaro. E esse tipo de declaração não é a mais correta a ser feita por uma secretária de cultura. Estamos vivendo a cultura da ideologia!", escreveu.