Tomar aspirina para evitar problemas como enfarte e AVC sem ter complicações gastrointestinais é um desafio para pacientes que fazem uso do medicamento. Mas um estudo de pesquisadores brasileiros conseguiu encontrar uma alternativa: ao trocar a dose diária do remédio pela administração a cada três dias, os efeitos benéficos foram alcançados sem afetar outras partes do organismo.
“Medimos uma substância produzida no estômago chamada prostaglandina, que é um protetor gástrico. Quando o paciente toma todos os dias, ocorre uma redução de 50% dessa substância. Ao tomar de três em três dias, não ocorre a diminuição e se mantém a eficácia da aspirina”, diz o coordenador da pesquisa, Gilberto De Nucci, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp) e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). A pesquisa recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) e da Biolab Farmacêutica.
O ácido acetilsalicílico (AAS) já é um antigo conhecido dos especialistas da área de saúde por sua capacidade de “afinar o sangue”, como é chamado popularmente o seu potencial de evitar que as plaquetas se agrupem e obstruam os vasos sanguíneos. “A aspirina inibe a atuação das plaquetas, que estão entre os responsáveis pela coagulação do sangue. Ela atua como um antiagregante”, explica Marcus Vinícius Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
O estudo foi feito com 28 pacientes saudáveis e publicado no periódico The Journal of Clinical Pharmacology. O artigo recebeu o destaque de “escolha do editor”.
Para os pacientes, o maior benefício de evitar as complicações gástricas é que elas costumam ser silenciosas. “A aspirina causa irritação gástrica que não necessariamente tem sintomas e o paciente pode ser surpreendido, mesmo com doses baixas, por hemorragia gástrica. Apesar do uso de protetores gástricos”, afirma De Nucci.
Orientação
Malachias diz que mais pesquisas devem ser feitas até que a recomendação de doses a cada três dias chegue aos consultórios. “A pesquisa é de uma inteligência imensa e grande originalidade. O ideal é que o modelo seja replicado na vida real, mas é importante que sejam realizados mais testes. A maioria da população deve continuar tomando (o remédio) todos os dias. Há um longo caminho, mas abre a perspectiva para os intolerantes à aspirina diária.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.