O juiz Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Lava Jato, diz que, quando começaram as investigações, não se sabia aonde iam dar, e que é difícil prever o que vai acontecer no futuro com a operação.
Segundo ele, investigações criminais levam a pistas, mas também a becos sem saída. “Gostaria, até por uma questão pessoal, que estivéssemos chegando perto de um final”, afirmou, ressaltando que está “um pouco cansado” e arrancando risos da plateia presente na palestra no Brazilian Summit, realizado pela revista The Economist, em São Paulo.
Moro disse que a decisão do STF que fatiou o processo da operação foi jurídica e não afeta o remanescente do caso que continua em Curitiba.
Delações premiadas
O juiz ironizou os críticos das delações premiadas, que comparam o instrumento a uma pescaria. “Tem vindo bastante peixe”, disse Moro.
Ele também afirmou que os remédios amargos são necessários para conter a sangria que ocorreu nos cofres da Petrobras. No seu entender, a opinião pública tem desempenhado um papel importante neste processo, posicionando-se a favor das investigações, “o que é essencial em uma democracia”.
Moro disse que é difícil prever o futuro político do Brasil com todo esse escândalo de corrupção. Mas defendeu que a sociedade cobre da classe política e que este caso sirva de exemplo para ver que o problema existe e trabalhar pelo fortalecimento das instituições. “Temos que fortalecer as instituições, fazer com que esses casos tenham tratamento mais ordinário. Assim o risco Berlusconi será reduzido”, disse, em referência ao ex-premiê italiano que, embora envolvido em vários escândalos e até condenado, não foi preso.
Ele afirmou que todos reclamam da morosidade do Judiciário brasileiro, defendendo um sistema mais ágil. “No criminal há um problema adicional porque gera um sentimento de impunidade, crimes que levam décadas nas Cortes, isso faz com que as pessoas percam a confiança na lei e na democracia. O problema principal é a excessiva morosidade que passa pelo sistema recursal.”
Moro defendeu o Projeto de Lei do Senado (PLS) 402, apresentado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil. O juiz já esteve no parlamento defendendo o projeto que prevê o cumprimento da pena já a partir da condenação em segunda instância, o que causou resistência na advocacia.