O volume de empréstimos para aquisição e construção de imóveis deve encerrar o ano de 2015 entre R$ 85 bilhões e R$ 90 bilhões, com uma queda de até 25% frente aos números do ano passado, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), apresentados pelo ex-presidente da entidade Octavio de Lazari Junior. No ano passado, os desembolsos de crédito imobiliário somaram R$ 112,9 bilhões.
Em evento a participantes do mercado imobiliário, organizado pelo Secovi-SP, o executivo afirmou que, apesar do enfraquecimento no ano de 2015, o patamar de crédito imobiliário não ficará mais no patamar de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões, como era visto há alguns anos. De acordo com ele, há um novo nível de volume de desembolsos, que deve ficar a partir de R$ 80 bilhões, principalmente quando o mercado se recuperar.
Lazari Junior ressaltou que o crédito imobiliário tem quatro pilares básicos, que mostraram deterioração ao longo de 2015: desemprego, confiança dos consumidores, rendimento real e inadimplência. “Todos estão seriamente abalados. Não poderíamos esperar situação diferente que a atual”, explicou. Por outro lado, ele disse acreditar no poder de resiliência do setor imobiliário e de conseguir encontrar soluções, “seja do lado industrial, produtivo ou dos bancos”.
De acordo com dados mais recentes da Abecip, foram destinados R$ 66,7 bilhões entre janeiro e outubro de 2015 para a aquisição e a construção de imóveis, resultado 28,4% inferior ao apurado no mesmo período do ano passado. Grande parte dessa queda foi atribuída pelo executivo ao patamar elevado dos juros no Brasil e consequentes saques líquidos da caderneta de poupança. No acumulado do ano até outubro, a captação líquida no SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) foi negativa em R$ 54 bilhões.
Para o ex-presidente da Abecip, existem instrumentos para apoiar o crédito imobiliário, mas o setor é afetado pela alta taxa de juros. O crédito imobiliário continua sendo no Brasil uma das carteiras mais representativas de todos os bancos, afirmou, pois essa modalidade de empréstimo é visto como extremamente importante, não pelo spread, disse, mas pela duração do crédito e da inadimplência baixa.
Frente às dificuldades atuais do mercado, a taxa de inadimplência tende a subir, mas vai bater no setor por último, disse o executivo, ao citar que o efeito vai ser sentido antes em modalidades como cartão de crédito e cheque especial. “Tem de estar preparado para uma eventual inadimplência. Não dá para pensar que vivemos numa ilha, isso vai nos afetar também.” No entanto, o cliente do crédito imobiliário tende a ser mais fiel, resguardando a modalidade, afirmou.
O executivo citou também que há alternativas para ajudar a concessão de crédito, como recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviços (FGTS) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). A Letra Imobiliária Garantida (LIG), segundo ele, está quase pronta, faltando apenas alguns ajustes do ministério da Fazenda e do Banco Central. “Mas não tem motivação de mercado para colocar no mercado, com os juros altos atuais no Brasil. Não há margem de lucro que pague taxa de juros desse tamanho”, afirmou.
Para 2016, o executivo disse que o cenário ainda é obscuro. No entanto, há oportunidade, senão para resolver as dificuldades do crédito imobiliário no curto prazo, pelo menos pavimentar o caminho para uma situação bem melhor de mercado no segundo semestre ou ultimo trimestre do ano.