Nos últimos 20 anos, o Estado de São Paulo foi tomado pelo vírus da dengue. Entre 1995 e 2015, o porcentual de cidades paulistas onde há circulação do vírus passou de 16,5% para 94,8%, mostra levantamento inédito feito pelo Estado com base nos dados do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde.
No ano passado, quando São Paulo viveu a pior epidemia de dengue da história, com 649 mil casos e 454 mortes, 612 dos 645 municípios tiveram transmissão do vírus. Em 1995, dado mais antigo, somente 107 cidades haviam registro de casos. O mosquito Aedes Aegypti, que transmite a dengue, é o mesmo vetor do zika vírus.
Mesmo quando analisado um período mais curto, o avanço da doença impressiona.
Das 612 cidades que tiveram casos no ano passado, 481 registraram índice epidêmico – mais de 300 casos por 100 mil habitantes. Em 2014, estavam nessa situação 142 cidades, o que indica que, em um ano, triplicou o número de municípios com epidemia.
O surto de 2015 também reduziu pela metade o número de municípios ilesos à dengue. Até 2014, 25 cidades nunca haviam tido um registro da doença, considerando os dados desde 1995. No ano passado, só nove ficaram livres dentro da série histórica: Barra do Chapéu, Bom Sucesso de Itararé, Campina do Monte Alegre, Itapirapuã Paulista, Monteiro Lobato, Óleo, Quadra, Ribeirão Branco e Taquarivaí.
São Miguel Arcanjo, cidade de 36 mil habitantes no sudoeste paulista, não tinha registrado casos autóctones de dengue até 2014. Primeira pessoa a ter contraído dengue no município, a diarista Elisângela Pereira, de 43 anos, se considera um marco no combate à dengue. “Depois do meu caso, todo mundo passou a se preocupar”, diz.
Em 2015, a doença chegou com força por lá: foram 298 notificações e 52 casos confirmados, dos quais 19 autóctones, em que a pessoa se infectou na própria cidade. Como não havia histórico na cidade, o diagnóstico demorou dez dias. “Fiquei de um lado para outro. Não tinha o teste rápido.” Elisângela chegou a ser internada.
Seca
Segundo pesquisadores, a crise hídrica em São Paulo pode ter motivado a expansão da doença. “O mosquito é mais relacionado à chuva, mas, sem chuva, as pessoas passaram a armazenar água de qualquer jeito. Onde mais faltou água é onde explodiu a dengue”, afirma a bióloga da USP Margareth Capurro, especialista em Aedes.
As temperaturas mais altas registradas no ano passado em todo o mundo também podem ter ajudado, como mostrou ontem reportagem do Estado. Christovam Barcellos, da Fiocruz, observou que a dengue a partir de 2013 começou a se mover para o sul do País e a atingir áreas de São Paulo e Minas de planalto, geralmente mais frias, onde antes não havia dengue.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.