Estadão

Em fase de flexibilização das restrições, Europa registra casos de cepa da Índia

No momento em que a Europa flexibiliza as restrições de movimento e ensaia uma retomada das atividades econômicas, os primeiros casos da variante indiana do vírus começam a aparecer em vários países. Ontem, Alemanha, Itália, Romênia e República Checa confirmaram contaminações com a nova cepa. Espanha e Portugal já haviam relatado infecções na quarta-feira.

"Temos casos isolados na Alemanha", confirmou ontem Lothar Wieler, diretor da agência de doenças infecciosas do Instituto Robert Koch, sobre a cepa B.1.617. A variante é conhecida como "duplo mutante" – ela contém mutações encontradas na cepa identificada na Califórnia, no início do ano, e na da África do Sul.

De acordo com dados do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), Bélgica, Irlanda, Holanda, Suíça e Reino Unido também relataram casos da variante indiana. A ilha francesa de Guadalupe e a holandesa de Saint Maarten, ambas no Caribe, identificaram casos da nova cepa em viajantes indianos.

O maior temor das autoridades sanitárias é que a variante indiana consiga driblar a imunização das vacinas. Ontem, a direção do Hospital Sir Ganga Ram, de Nova Délhi, disse que 37 médicos, que haviam sido vacinados com duas doses, já contraíram covid este mês.

Até o momento, as evidências são inconclusivas sobre a responsabilidade da variante na alta dos casos, e os pesquisadores alertam que outros fatores podem explicar a força do surto, que vem deixando os hospitais do país lotados, causando escassez de oxigênio e sobrecarregando os crematórios.

"A onda atual de covid tem um comportamento clínico diferente", disse Sujay Shad, cirurgião cardíaco do Hospital Sir Ganga Ram, onde dois médicos contaminados precisaram de oxigênio suplementar para se recuperar. "O vírus está afetando jovens adultos, famílias inteiras. É uma coisa totalmente nova. Bebês de dois meses estão sendo infectados."
Pesquisadores fora da Índia dizem que os poucos dados disponíveis até agora sugerem que a variante pode ser um fator mais considerável.

"Embora seja quase certo que a B.1.617 esteja desempenhando um papel, não está claro o quanto está contribuindo diretamente para o aumento", disse Kristian Andersen, virologista da Instituto de Pesquisa Scripps, de San Diego, nos EUA.

Além da variante, os cientistas acreditam que existam outros fatores que podem estar impulsionando o surto na Índia. Um deles é a campanha de vacinação, que imunizou apenas 2% da população. Especialistas também culpam os erros do primeiro-ministro, Narendra Modi, que promoveu aglomerações em comícios e enviou aos indianos a mensagem de que o pior já havia passado. "As eleições, os festivais religiosos e várias outros setores se abriram rápido demais", disse Sujatha Rao, ex-secretária do Ministério da Saúde. "Foi um erro muito grave e estamos pagamos um preço muito caro por esse descuido."

Para Jeffrey Barrett, diretor do Instituto Wellcome Sanger, do Reino Unido, é precipitado dizer que a B.1.167 é a explicação para o que está acontecendo na Índia. "Há outras razões que são provavelmente mais lógicas para a alta de casos", afirmou.

A pandemia na Índia vem piorando a cada dia. Ontem, as autoridades relataram dois novos recordes: mais de 3,5 mil mortes e 386 mil casos em 24 horas. Especialistas, no entanto, acreditam que os números reais sejam ainda mais assustadores. O medo da reação popular pode estar fazendo com que políticos e administradores de hospitais estejam subnotificando o número de mortos. Parentes das vítimas também estariam escondendo a ligação das mortes com a covid, muitas vezes por vergonha.

<b>Renúncia</b>

O premiê da Índia, Narendra Modi, tem sido criticado pela resposta negligente à pandemia. E seu governo tem feito de tudo para abafar os comentários negativos. No início da semana, a pedido do governo, o Twitter removeu postagens críticas à gestão da pandemia. Entre os tuítes censurados, havia comentários de políticos, como o porta-voz do Partido do Congresso Indiano, Pawan Khera, de oposição.

Na quarta-feira, a hashtag pedindo a renúncia de Modi foi temporariamente bloqueada no Facebook, escondendo mais de 12 mil postagens críticas ao governo. Os usuários que pesquisavam pela hashtag recebiam uma mensagem dizendo que as postagens estavam "temporariamente indisponíveis" porque o conteúdo era contrário às "regras da comunidade".

Em poucas horas, o Facebook restaurou as mensagens e disse que tudo não passou de um acidente. "Bloqueamos temporariamente a hashtag por engano, não porque o governo indiano nos pediu", garantiu Andy Stone, diretor de comunicação da empresa. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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