Apesar de não ter sido alvo da operação que prendeu Fabrício Queiroz, a filha mais velha do ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Nathália Melo de Queiroz, criticou o que considera erros do pai.
Em conversa com a mulher do pai em outubro do ano passado, a personal trainer, também investigada pelo Ministério Público do Rio, chamou Queiroz de "burro". Também reclamou da insistência dele em se envolver com política, mesmo sendo o principal alvo – e símbolo – da investigação contra o ex-chefe na Assembleia Legislativa do Rio. As mensagens, via aplicativo de celular, foram descobertas pelo MP em quebras de sigilo e são parte da apuração.
A indignação expressa nas mensagens indica que Nathália, apesar dos indícios de que transferiu para o pai até 81% do que recebeu como assessora parlamentar, leva uma vida diferente da de seus pares. Personal trainer com mais de 11,6 mil seguidores no Instagram – a conta passou a ser fechada após as investigações -, Nathália posta imagens de natureza, selfies e fotos doando sangue que, volta e meia, recebem comentários de celebridades. Recentemente, figuras como Dany Bananinha e o ator Thiago Gagliasso passaram por lá.
Mesmo reclamando do modo como o pai insistia em permanecer ativo na política, a ex-assessora apontada como fantasma pelo MP não deixa de dar suas opiniões para os seguidores. No início deste mês, na esteira da onda de imagens com a bandeira "antifascista" nas redes sociais, autodenominou-se uma "professora antifascista". Muito do movimento tinha como objetivo criticar o presidente Jair Bolsonaro, cuja família empregou Queiroz e seus parentes por anos.
A atuação de Nathália como personal trainer de celebridades – Bruna Marquezine e Bruno Gagliasso, por exemplo – ajudou a chamar atenção para o fato de ela ser "fantasma". Isso porque fotos da professora com os clientes famosos eram publicadas no Rio de Janeiro, enquanto seu nome estava registrado como assessora do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília. Ela não aparecia na capital federal.
Nathália é tida como a mais articulada da família. Acaba sendo a responsável por lidar, por exemplo, com os advogados do caso. Seu nome também aparece nas investigações, por repasses que fez ao pai, mas, por não estar sob suspeita de obstrução de Justiça, não foi alvo de nenhuma medida cautelar na atual fase investigação. Até agora, passou por um mandado de busca e apreensão e teve os sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados.
<b>Cotidiano</b>
Sabe-se que Nathália está cansada de toda a investigação, que fez com que ela perdesse clientes e mudasse a rotina. Queria poder retomar o estilo de vida que mantinha até ser citada constantemente no noticiário. Mas os desdobramentos do Caso Queiroz, cada vez mais próximo ao Palácio do Planalto, não deixam.
Enquanto a mulher de Queiroz – Márcia Oliveira Aguiar, com prisão decretada e considerada foragida pelo MP – e outras pessoas próximas a ele mantinham conversas que indicavam um esquema para protegê-lo e mantê-lo escondido, Nathália só é citada no documento recente do MP quando resolve elencar os problemas do pai.
Ao encaminhar para Márcia, que não é sua mãe, uma reportagem do jornal O Globo que mostrava um áudio de Queiroz falando sobre cargos em Brasília, em outubro do ano passado, Nathália escreveu: "Meu pai não se cansa de ser burro, né?"
Márcia respondeu: "Cara, é foda! Não sei, cara, quando é que teu pai vai aprender a fechar o caralho da boca dele? Eu tô cansada!"
As conversas não pararam por aí. Nathália, inconformada com a suposta burrice do pai, voltou a mandar uma longa mensagem para a mulher dele, que não é sua mãe.
"Márcia, eu vou te falar. De coração. Eu não consigo mais ter pena do meu pai, porque ele não aprende. Meu pai é burro! Meu pai é burro! Ele não ouve. Ele não faz as coisas que tem que fazer. Ele continua falando de política. Ele continua se achando o cara da política."
Nathalia diz ainda que, sempre que o encontra, Queiroz insiste em falar em política, em nomeações. "Quando tá tudo quietinho. Tudo quietinho. Aí vem uma bomba. E vem a bomba vindo do meu pai, né?"
O <b>Estadão</b> procurou Nathália por diferentes meios, mas ela não respondeu. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>