A Polícia Federal abriu nova linha de investigação no inquérito que apura a suposta vacinação contra covid-19 de empresários em garagem de uma empresa de ônibus em Belo Horizonte. As autoridades passaram a trabalhar com a possibilidade de a falsa enfermeira, investigada como sendo quem aplicou as doses, ser uma peça do esquema, e não a mentora, como apontado inicialmente.
A suspeita da PF é que os empresários tenham caído em um golpe. Perícia da corporação após diligências na semana passada apontaram que parte de material apreendido na casa da falsa enfermeira, que na verdade é cuidadora de idosos, era soro fisiológico. E que as injeções aplicadas nos empresários teria esse produto, e não um imunizante contra covid-19.
Novas diligências serão colocadas em andamento pela corporação para tentar chegar a quem realmente arquitetou o esquema. Dúvidas sobre a possibilidade de a falsa enfermeira ser a articuladora do possível golpe surgiram a partir do depoimento da cuidadora de idosos, no dia 30. Ela permaneceu em silêncio a maior parte do tempo, mas os investigadores conseguiram identificar indícios de que a mulher não seria a pessoa que armou o golpe.
Nesta segunda-feira, 5, um filho e uma filha da falsa enfermeira foram ouvidos na Polícia Federal e a corporação manteve, ao menos por enquanto, a linha de investigação no sentido de que não seria ela a articuladora. A cuidadora de idosos chegou a ser presa depois do depoimento, mas conseguiu habeas corpus na última sexta-feira, 2.
Ao mesmo tempo em que tenta identificar um ou mais possíveis responsáveis por armar o esquema de vacinação falsa, a PF busca ainda estabelecer exatamente onde o golpe começou a ser aplicado na cidade e como se alastrou. Conforme mostrou o <b>Estadão</b>, as investigações da corporação apontam que a cuidadora de idosos já atuava com o esquema desde o início de março. A PF apurou que a mulher atendia também no esquema de vacinação por delivery, e que um dos bairros em que mais fez "atendimentos" foi no Belvedere, bairro de classe alta na zona sul da cidade.
A atuação da falsa enfermeira em BH foi revelada pela <i>revista piauí</i>, em reportagem de 24 de março. Vídeos aos quais o Estadão teve acesso mostram uma mulher de jaleco branco em meio a carros na garagem da empresa, que fica no bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte.
Segundo as apurações da PF, a suposta vacinação, na empresa, ocorreu na segunda-feira, 22, e terça-feira, 23. Pelo menos 80 pessoas no local passaram pelo procedimento. Funcionários informaram à reportagem do Estadão que a empresa faz parte do grupo Saritur de transporte, um dos maiores de Minas. Segundo a <i>revista piauí</i>, cada "vacinado" pagou R$ 600 para ter duas doses do que seria um imunizante contra covid-19.
Legislação aprovada pelo Congresso Nacional autoriza a importação de vacinas, desde que parte seja repassada ao Sistema Único de Saúde ao longo do período em que são imunizados grupos prioritários, como idosos e agentes de saúde. A PF, inicialmente, trabalhava com três linhas de atuação. Desvio de vacina do SUS, contrabando do imunizante ou golpe, hipótese que vem se confirmando.