Puxado por atividades exportadoras, como a agropecuária e a indústria extrativa, o Produto Interno Bruto (PIB, valor de tudo que é produzido na economia) cresceu 1,2% no primeiro trimestre do ano, na comparação com os últimos três meses de 2020. Divulgado ontem pelo IBGE, o resultado ficou acima das previsões do mercado – que estimava avanço em torno de 0,7% – e levou algumas instituições a projetar alta de até 5,5% no fechamento do ano. Ainda assim, uma terceira onda de covid-19 no País e um eventual racionamento de energia são citados por analistas como os principais riscos para atividade.
Com o crescimento registrado entre janeiro e março, o PIB voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia. Mas ainda está 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do País – alcançado no primeiro trimestre de 2014.
O resultado foi visto pelo governo como um sinal de acerto da política econômica, e levou o ministro Paulo Guedes a falar em desbloqueio de recursos do Orçamento (mais informações na pág. B5). Já a Bolsa de Valores bateu ontem o terceiro recorde consecutivo, ao alcançar 128,2 mil pontos, na expectativa de crescimento de receita das empresas.
Uma pesquisa do Projeções Broadcast com 22 instituições indicou melhora também nas estimativas para o PIB no ano. A mediana passou de 4,2%, em sondagem antes da divulgação dos dados oficiais, para 5,0%. As apostas oscilam agora entre 3,3% e 5,5%. Entre os mais otimistas, estão Goldman Sachs e BNP Paribas. Bradesco e Itaú Unibanco esperam 4,8% e 5,0%, respectivamente.
Ainda há riscos para a consolidação desse cenário de maior crescimento, como a própria evolução da pandemia e a dinâmica do mercado de trabalho e renda. Afetado pela elevada inflação de alimentos, pelo alto desemprego e pela ausência do auxílio emergencial – que só voltou a ser pago pelo governo federal em abril -, o consumo das famílias ficou estagnado, com ligeira queda de 0,1% ante o quarto trimestre.
Além disso, a crise hídrica ameaça tanto o crescimento econômico, por causa da oferta de eletricidade, quanto a inflação, com esperados reajustes na conta de luz. "E tanto uma piora da pandemia como o risco hidrológico afetam o (equilíbrio) fiscal, por pressão por mais gastos, com transferências ou subsídios", diz a economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour.
<b>Agropecuária</b>
O crescimento do primeiro trimestre foi puxado pela agropecuária, que saltou 5,7% sobre o quarto trimestre de 2020, com destaque para a colheita da soja, e pelo PIB industrial, que avançou 0,7% na mesma base de comparação (com alta de 3,2% no segmento extrativo). Na ótica da demanda, esses setores puxaram a alta de 4,6% nos investimentos, embora esse avanço tenha sido artificialmente inflado por mudanças na tributação da indústria de petróleo e gás.
Mais afetados pela pandemia, os serviços, principal componente do PIB pela ótica da oferta, cresceram 0,4% na comparação com o quarto trimestre de 2020, ainda demonstrando lentidão na retomada. Na comparação com os três primeiros meses de 2020, apresentaram queda de 0,8%.
"O setor agrícola continuou superforte neste primeiro trimestre, e a indústria e os serviços estão aprendendo a se readequar. Olhando para segundo trimestre, os indicadores antecedentes também são favoráveis, com alta na confiança de quase tudo. E a mobilidade também não sentiu os lockdowns regionais de forma expressiva", disse o economista Daniel Xavier, do Banco ABC Brasil.
No início da pandemia, as restrições ao contato levaram a uma paralisação inédita da produção, das vendas e dos serviços, derrubando a atividade econômica. Com o passar dos meses, o efeito da menor mobilidade sobre os indicadores econômicos caiu, diz um relatório da LCA Consultores, sugerindo que "as economias se adaptaram à pandemia", com "uso intensivo de tecnologia, sistemas híbridos (presencial e virtual) de trabalho e ampliação do e-commerce". / COLABORARAM GUILHERME BIANCHINI e THAÍS BARCELLOS
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>