A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde Francieli Fantinato encerrou seu depoimento à CPI da Covid. Durante a oitiva, o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), decidiu retirá-la da condição de investigada pela comissão, situação em que estava desde o dia 18 de junho. A avaliação da cúpula da CPI é de que Francieli colaborou com informações importantes para a comissão e demonstrou não ter motivos para ainda constar da relação de investigados.
Após um dia agitado para a CPI, em que o ex-diretor de Logística da Saúde foi preso, o depoimento de Francieli ocorreu num clima mais ameno. A ex-coordenadora defendeu a vacinação contra a covid, se colocou contra a teoria da imunidade de rebanho por meio da contaminação da população como uma estratégia para combater a doença e advogou a favor de uma campanha de informação mais incisiva a favor da vacinação no País.
Francieli disse que sua saída do cargo se deu em virtude da "politização" da vacinação contra o novo coronavírus. Convocada à CPI após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, imputar a ela a responsabilidade pela edição de uma nota técnica recomendando aos Estados a aplicação da segunda dose, com qualquer vacina disponível, em gestantes que tomaram a primeira dose de Astrazeneca, sem nenhuma comprovação de segurança ou eficiência da ação em grávidas, a servidora afirmou que nenhuma bula de vacinas contra a covid-19 veda a aplicação em gestantes e defendeu a intercambialidade do uso dos imunizantes.
Durante seu depoimento, Francieli atribuiu o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco o pedido de retirada de presidiários dos grupos prioritários da vacinação contra a covid-19, e afirmou que, ao conversar com ele sobre o motivo de o País não ter solicitado uma porcentagem maior que 10% ao ingressar no consórcio Covax Facility, ele teria argumentado que não se deveria "apostar todos os ovos" no instrumento. Após a declaração, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) declarou não ter dúvidas de que o ex-secretário deve ser um dos primeiros indiciados da CPI.
O relator Renan Calheiros (MDB-AL) relembrou a nota assinada pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e pelos comandantes das Forças Armadas classificando as declarações do presidente da Comissão, Omar Aziz (PSD-AM), como "grave, infundada e irresponsável". Durante a sessão de ontem, Aziz afirmou que "há muitos anos, a gente não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua do governo".
A nota foi vista pela maioria do colegiado como uma tentativa de intimidação aos trabalhos da CPI. Em resposta, Calheiros afirmou que as falas de Braga Netto eram sem precedentes, e defendeu que a CPI não pode ser ameaçada sob pretexto nenhum.
"Nós vamos investigar haja o que houver. Se o Pazuello (Eduardo, ex-ministro da Saúde) participou do morticínio, se o Bolsonaro (presidente Jair) participou do morticínio, se o Elcio participou do morticínio, eles participaram de um morticínio, mas não contaminam as Forças Armadas", afirmou o relator. "Nós saberemos a quem responsabilizar, e as famílias dos mortos também saberão".
Durante a sessão, Aziz também fez questão de responder a críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, afirmando que enviaria hoje uma carta ao chefe do Executivo cobrando uma posição sobre as acusações feitas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) contra o governo. Aziz aumentou o tom e cobrou de Bolsonaro que chamasse o deputado Luis Miranda (DEM-DF) de mentiroso devido às suas acusações contra o governo realizadas pelo deputado à CPI, e cobrou de Bolsonaro uma defesa do líder do seu governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), acusado de participar do esquema de corrupção.
Em depoimento à CPI, Miranda relatou que Bolsonaro foi informado por ele e pelo irmão, servidor do Ministério da Saúde, de suspeitas de irregularidades na compra da vacina Covaxin e não investigou.