Estadão

Dólar cai 0,76% e fecha a R$ 5,1916 com apetite externo ao risco

O enfraquecimento global da moeda americana abriu espaço para uma rodada de apreciação mais forte do real na tarde do pregão desta quarta-feira, 21. Renovando mínimas de forma sucessiva, o dólar à vista não apenas rompeu o piso de R$ 5,20 como passou a ser negociado na casa de R$ 5,18.

Segundo analistas, a recuperação do apetite ao risco no exterior, com alta firme das Bolsas americanas, do petróleo e do rendimento dos Treasuries, se sobrepôs aos ruídos políticos locais e abriu espaço para a "correção dos exageros" na depreciação do real, que liderou a perda entre divisas emergentes no auge dos temores globais com a cepa Delta do coronavírus.

Não se descarta também o rompimento de suportes técnicos quando do dólar furou o piso de R$ 5,20, o que teria levado ao disparo de ordens de stop loss (limitação de perdas) e zeragem de posições. Ainda mais pelo fato de o dólar à vista ter ensaiado uma alta pela manhã, chegando a operar no nível de R$ 5,27.

Entre a mínima (R$ 5,1821) e a máxima (R$ 5,2774), o dólar à vista oscilou mais de 9 centavos, o que dá uma dimensão da volatilidade que tem pautado os negócios no mercado de câmbio. A moeda americana acabou fechando em queda firme, de 0,76%, aos R$ 5,1916, emendando o segundo pregão de perdas. Apesar disso, o dólar ainda acumula alta de 1,49% na semana e valorização de 4,39% em julho.

Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, destaca que a queda do dólar ontem, de 0,37%, foi modesta comparada com a alta de 2,64% na segunda-feira. "A correção ontem foi pequena e sobrou uma gordura para queimar, o que aconteceu agora com o cenário externo melhor. Pode ter havido também fluxo mais forte", diz Iha, que ainda vê as indefinições no quadro político como um entrave para o fortalecimento maior do real. "Tem essa questão do fundo eleitoral, a reforma do ministério e, mesmo com o recesso parlamentar, pode sair algo da CPI da Covid".

Depois do veto ao fundo eleitoral, de R$ 5,7 bilhões, o presidente Jair Bolsonaro disse hoje que vai anunciar uma "pequena mudança ministerial" na segunda-feira, 26. Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam que o presidente e o ministro da Economia, Paulo Guedes, já acertaram o recriação do Ministério da Previdência e Trabalho, que seria comando pelo atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni. Bolsonaro também anunciou que vai "descontigenciar" todos os recursos do orçamento dos ministérios, pretextando aumento da arrecadação federal.

Nas mesas de operação, teme-se que a perda de popularidade de Bolsonaro esgarce seu capital político, abale sua base no Congresso e impeça a votação das reformas. Depois de "morder" com o anúncio de veto ao fundo eleitoral, Bolsonaro estaria tentando afagar o Centrão, em uma tentativa de reagrupar sua base parlamentar e se proteger das acusações da CPI da Covid. Na Casa Civil, o presidente deve alocar o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, o principal partido do Centrão.

"Olhando a conjuntura política, um dólar ainda acima de R$ 5 ainda faz muito sentido", afirma a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, que vê a queda da moeda americana hoje como um movimento natural de correção, em meio ao ambiente externo mais propício aos ativos de risco. "Nosso cenário ainda é de dólar a R$ 5,20 no fim do ano, e com muita volatilidade no meio do caminho. Tudo o mais constante, a Selic mais alta diminuiria a taxa de câmbio. Mas o retrato do Brasil ainda é muito ruim. Não vejo um fluxo grande de recursos nos próximos meses."

Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o País registrou fluxo cambial negativo de US$ 1,086 bilhão em julho até o dia 16 – com saída líquida de US$ 2,716 bilhões no segmento financeiro e entrada líquida de US$ 1,630 bilhão pelo lado comercial. No ano, até 16 de julho, o fluxo cambial é positivo em US$ 14,254 bilhões, mas o canal financeiro ainda amarga saída líquida de US$ 717 milhões.

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