Estadão

Taleban captura capital provincial e ONU teme escalada de conflito afegão

O Taleban conquistou nesta sexta-feira, 6, a primeira capital de uma província do Afeganistão desde a retirada de forças da ONU e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) do país e ampliou os temores de um agravamento do conflito. Em meio à tensão, as Nações Unidas alertaram para o risco de um confronto de grandes proporções.

Enquanto os Estados Unidos já reveem o plano de paz negociado no ano passado, a Rússia amplia sua presença militar na Ásia Central.

Ontem, o Taleban tomou a cidade de Zaranj, capital da Província de Nimroz, num grande revés para o governo, que tenta evitar que várias cidades caiam nas mãos dos insurgentes. Segundo Roh Gul Khairzad, vice-governador da província, a cidade, que fica perto da fronteira com o Irã, caiu sem resistência, um cenário que vem se repetindo em todo o país.

Nas redes sociais, foram publicados vídeos que mostram os insurgentes pelas ruas da cidade, em meio a aplausos dos moradores, mas a veracidade desses vídeos não pôde ser comprovada.

A queda de uma capital provincial para o Taleban marca uma escalada significativa da ofensiva militar do grupo. Anteriormente, os combates eram em grande parte restritos às áreas rurais.

Nos últimos dias, as forças afegãs e do Exército americano lançaram vários ataques aéreos no país, na tentativa de conter o avanço taleban em centros urbanos importantes. O grupo já assumiu o controle de amplas áreas rurais e de importantes postos fronteiriços nos últimos meses, em uma ofensiva lançada após o início da retirada das forças militares estrangeiras até então estacionadas no país. A saída das tropas deve ser concluída até 31 de agosto.

Depois de encontrarem pouca resistência nas zonas rurais, há vários dias os taleban dirigem suas ofensivas contra grandes centros urbanos, sitiando várias capitais de província. O grupo atualmente controla mais da metade dos 421 distritos e tem como objetivo tomar todas as capitais.

<b>Atentado</b>

Ainda ontem, horas antes de tomar a cidade, o Taleban matou Dawa Khan Menapal, diretor de comunicação do governo que supervisionou as operações para a mídia local e estrangeira.

O homicídio de uma das principais vozes do governo acontece depois de mais um dia de intensos combates no Afeganistão, onde a guerra atinge Cabul pela primeira vez em meses. Os combatentes afirmaram que vão realizar operações contra altos cargos em resposta aos bombardeios. Ontem, o ministro da Defesa afirmou que mais de 400 insurgentes foram eliminados nos últimos dois dias em bombardeios das forças afegãs.

"Infelizmente, os brutais e selvagens terroristas cometeram um novo ato covarde e mataram um patriota afegão que resistia à propaganda inimiga, Dawa Khan Menapal, durante a oração de sexta-feira na capital", declarou o porta-voz do ministério, Mirwais Stanikzai, em mensagem enviada à imprensa pelo aplicativo WhatsApp.

A Casa Branca condenou os últimos ataques do Taleban, dizendo que essas ações não levarão ao reconhecimento e legitimidade internacional que o grupo busca. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que os insurgentes não precisam continuar neste caminho. "Vocês podem optar por dedicar ao processo de paz a mesma energia que (dedicam) à sua campanha militar. Recomendamos veementemente que o façam", afirmou.

Em uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a enviada da ONU para o Afeganistão, Deborah Lyons, pediu ao Taleban que acabe com os ataques contra as cidades e ao Conselho que lance uma advertência inequívoca.

<b>Fuga</b>

Centenas de milhares de civis foram forçados a fugir nas últimas semanas. Nas redes sociais, inúmeros vídeos mostram os estragos dos combates na cidade de Lashkar Gah (sul do Afeganistão). Em um comunicado, o grupo humanitário Ação contra a Fome disse que seus escritórios foram atingidos por um ataque aéreo na cidade esta semana, apesar de seu telhado estar sinalizado como sendo de uma ONG.

Na cidade de Herat, no oeste do país, um fluxo contínuo de moradores deixa suas casas, antecipando-se a um eventual ataque do governo às posições controladas pelos taleban.

"Fomos todos embora", contou Ahmad Zia, que morava na parte oeste da terceira maior cidade do Afeganistão. "Não temos mais nada e não sabemos para onde ir", completou. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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