O <i>BBB 21</i> estreou há três semanas e já levantou discussões sérias sobre temas como violência psicológica e cultura do cancelamento. A atenção do telespectador está voltada aos desdobramentos de cada "treta" que ocorre na casa, mas esse interesse tem gerado sentimentos negativos que estão atrelados à saúde mental e emocional de quem assiste.
Uma pesquisa realizada pela Hibou, empresa de monitoramento de mercado e consumo, indica que os temas no reality show incomodam e despertam gatilhos.
Entre os brasileiros que estão acompanhando o programa (52% de 2.467 entrevistados), 86% afirmam que já sentiram emoções negativas fortes, sendo que raiva, tristeza, preconceito e humilhação têm maior expressividade. As respostas foram coletadas de forma virtual entre os dias 5 e 6 de fevereiro, em território nacional. A amostra contou com pessoas acima de 20 anos, englobando o público ABCD, sendo que 56% eram casadas e 58%, mulheres.
Com mais de 20 anos no ar, o <i>Big Brother Brasil</i> já faz parte da rotina de entretenimento sazonal da população. Nos três meses em que fica no ar, o programa pauta a imprensa, as conversas entre amigos e até mesmo quem não assiste tem opinião sobre a atração. O telespectador está ali para uma espécie de diversão, mas a quebra de uma expectativa positiva acaba provocando sensações contrárias.
"O público tem uma noção de que entretenimento é positividade e não mexe com questões que são negativas, como tragédias, discussões, desencontros e brigas. Mas, de alguma forma, o programa faz tanto sucesso justamente porque a ideia é desvelar, abrir para o grande público a espontaneidade e a vida privada das pessoas e isso lida também com coisas negativas, porque não tem como ter controle", comenta o psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em psicologia pela Universidade de São Paulo.
Segundo o especialista, a diferença da edição atual do <i>BBB</i> para as anteriores é que, agora, as pessoas estão nomeando e descrevendo os próprios sentimentos quando veem uma situação que causa identificação, seja de alegria ou repulsa. E diferente de uma novela, em que, na maior parte, os vilões, os mocinhos e as zonas de tragédias são bem definidas, o reality show traz reviravoltas. Ao perceber que alguém, antes visto como "bonzinho", se revela completamente diferente, o público sente o impacto de modo mais íntimo.
"É a quebra de que o entretenimento traria um apaziguamento das paixões, sem brigas nem discussões. Esse BBB está sendo um balde de água fria, uma quebra de ilusões. Tem um colapso nessas definições e o espectador fica bagunçado", diz Goldberg. E como produto cultural de consumo, a atração da TV Globo atrai interesse e desperta prazeres e repulsas, alegrias e tristezas, da mesma forma como quando nosso personagem favorito é assassinado de modo cruel na história de um livro ou o vilão tem vitórias sucessivas em uma série ou filme.
Mas o curioso do ser humano é seguir consumindo justamente aquilo que lhe causa desprazer. A pesquisa da Hibou mostra que apenas 6,7% dos entrevistados estão pensando em parar de assistir ao <i>Big Brother Brasil 21</i>. Entre os motivos estão: ausência de um clima feliz (51,3%), conteúdo pesado (50,6%), muita discussão boba e pouca diversão (43,8%) e cansaço do assunto de cancelamento (36,9%). Por que, então, seguimos vidrados?
"O espectador está um pouco mais amadurecido em relação a conteúdo que é muito estático, em que ele já sabe o que vai acontecer no final. Muito do que a gente aclama é aquela velha máxima de: tudo o que achei que ia acontecer não aconteceu. A graça do reality show são esses movimentos de reviravoltas", responde o psicanalista.
Para 51,4% dos entrevistados na pesquisa da Hibou, o que chama atenção no programa, de forma geral, é a possibilidade de bisbilhotar o comportamento das pessoas. Outros 49,4% disseram que gostam mesmo é dos conflitos por opiniões e atitudes distintas. Apenas um quarto deles afirma relaxar assistindo à atração e 19,9% dizem que acompanham o reality para ter assunto com os amigos.
Uma vez que, em grande parte, o BBB mostra a vida privada e cotidiana das pessoas como ela é, a sensação de pertencimento e identificação faz com que, mesmo sofrendo, o telespectador continue vigiando a casa. Afinal, ele sabe que também existem problemas e intrigas na vida real.