Os juros futuros de curto prazo fecharam o dia perto da estabilidade e os longos em queda, com perda de inclinação da curva. O desenho reflete uma redução da tensão com o cenário político, mas que é considerada também frágil uma vez que o histórico recente mostra mudanças repentinas nas sinalizações vindas de Brasília. O recuo dos longos era mais firme pela manhã, tendo arrefecido à tarde com o aumento da cautela em Nova York. Os curtos oscilaram ao redor dos ajustes anteriores, limitados pela permanente preocupação com o cenário inflacionário, hoje reforçada pela pesquisa Focus e novas revisões em alta para IPCA e Selic.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 9,15%, de 9,172% no ajuste anterior e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 10,186% para 10,13%. O DI para janeiro de 2027 passou de 10,584% para 10,49%.
Dada a agenda relativamente fraca no Brasil e no exterior e os prêmios elevados na curva, que na semana passada passou por vários momentos de stop loss, houve espaço para devolução de parte da alta recente das taxas. "Por mais que o quadro ainda gere coerente apreensão e posições defensivas dos investidores, há relativa amenização dos temores", afirmaram, em relatório, profissionais do Departamento Econômico da Renascença DTVM, citando a carta do presidente Jair Bolsonaro indicando trégua nos ataques ao Judiciário e o fato de as manifestações ocorridas ontem pelo Brasil terem aglutinado bem menos pessoas que o esperado.
Os protestos contra Bolsonaro neste domingo foram organizados por partidos de direita que agora se rebelam contra o governo, mas, sem participação efetiva da militância da esquerda, acabaram esvaziados. Com a oposição ao governo dividida, a possibilidade de avanço nos processo de impeachment de Bolsonaro na Câmara perde força. "A dúvida é se essa pacificação nas tensões vai dar fôlego para a evolução das pautas econômicas ou servirá só para garantir a sobrevida do governo até as eleições", disse o analista de Investimentos Renan Sujii.
Os contratos curtos ficaram mais travados pela agenda escassa e pelo quadro negativo para inflação e Selic. A pesquisa Focus trouxe hoje o resultado das várias revisões pessimistas que o mercado tem feito nos últimos dias, com a mediana de IPCA para 2021 batendo em 8% e a de 2022 rompendo 4% (4,03%). A mediana de Selic também chegou a 8%, de 7,58% na pesquisa passada, no fim de 2021. Mas as revisões para cima continuaram nesta segunda-feira. O JPMorgan apresentou mudanças agressivas nas projeções, com a da taxa básica passando de 7,5% para 9% no fim do ciclo e a de PIB em 2022 caindo de 1,5% para apenas 0,09%.