Se tem vacina lá fora, e não no Brasil, é falha do governo

O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Vander Costa, disse que o setor se dispôs a ajudar na logística da distribuição das vacinas gratuitamente e que agora não é hora de "vaidades". Na visão dele, o governo Bolsonaro errou ao não se antecipar nas negociações diplomáticas que poderiam ter garantido a imunização em massa no País. "Não adianta ficar brigando agora. Não vão fazer campanha em cemitério, né?"

<b>Como o seu setor, ligado à logística, pode ajudar na vacinação?</b>

Estamos prontos para colaborar na distribuição das vacinas. Basta o governo solicitar o apoio. As empresas já se colocaram à disposição para fazer o transporte gratuito. A logística está pronta, é só a questão de termos vacina e o transporte será feito com qualidade.

<b>Pode ser feito de forma gratuita?</b>

Se necessário for, até de forma gratuita. Porque, se for trabalhar para o governo, tem de fazer licitação e demora muito tempo. As empresas que já estão contratadas podem cobrar os contratos do SUS; quando não for isso, as empresas estão dispostas a transportar de forma gratuita. Com o povo vacinado, vai voltar a ter comércio, turismo, a ter deslocamento de pessoas. Isso faz com que as empresas tanto rodoviárias de passageiros e áreas voltem a arrecadar. Fazer transporte de vacina de graça é uma boa ação, mas ação que vai dar retorno para a sociedade brasileira como um todo.

<b>Mesmo na distribuição desse lote inicial de vacina, que não foi uma quantidade grande, foram identificados atrasos?</b>

Houve alguns atrasos de hora por vaidade política. Alguém que queria aparecer na foto para tirar retrato, em vez de deixar a logística abastecer os postos de saúde. Houve falhas, sim, podemos melhorar e o que a CNT está propondo para as empresas é afastar todo o viés político, a vaidade pessoal, para dar agilidade. Não vejo a necessidade de adesivar (o meio de transporte) para entregar a vacina. Isso atrasa.

<b>A questão é o que está por trás? </b>

Sim, a vaidade. Isso tem de ser afastado. O mais importante é salvar vidas. Daqui a um ano, publica o que foi feito. Não adianta ficar brigando agora. Não vão fazer campanha em cemitério, né? Estamos prontos para poder transportar.

<b>Como o sr. vê o atraso e as negociações complicadas?</b>

Se o mundo inteiro está vacinando e o Brasil não tem vacina, é falha do nosso governo. A pior coisa do meu ponto de vista é não reconhecer quando se falha. Quando você erra, e reconhece o erro, toma atitude para corrigir. Mas, quando não quer ver o erro, vai continuar fazendo errado. Querer fazer a mesma coisa do mesmo jeito e esperar resultado diferente é coisa de louco. Deu errado, tem de mudar de atitude.

<b>O sr. está se referindo ao presidente Jair Bolsonaro ou também a governadores e prefeitos?</b>

Todo mundo tem de voltar atrás. Mas, nesse momento, falta ação do governo federal, seja do próprio Bolsonaro e ministros. Quando eu falo do governo Bolsonaro, envolve Ministério das Relações Exteriores, da Saúde, porque tem vacina no mundo. Faltam relações políticas para trazer para o Brasil. Quem faz relações internacionais não são os prefeitos lá de… Quem faz é o governo federal. Enquanto o nosso ministro Ernesto Araújo fala que não tem problema político, ele está equivocado.

<b>Está faltando mobilização do setor empresarial?</b>

O setor empresarial está fazendo o que pode, que é pressionar os órgãos públicos para ter vacina.

<b>Muitos empresários têm medo de falar contra o governo.</b>

Eu não estou falando contra o governo. Eu estou tentando alertar o governo. É ele que tem de agir.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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